Sunday, December 2, 2007

Espinho desconhecido...

Foto - caiccofreedom.it


As ruas escuras são iluminadas por uma estrela cadente que rasga o céu negro. É um segundo. São dois no máximo.

Mas o arrasto deixado por essa chama estrelar marca o céu e muda destinos. Lá no final da rua, o som das ondas a varrerem a areia e o cintilar da espuma branca compõem a música de fundo. 

O intenso nevoeiro completa esse cenário quase cinematográfico. As casas antigas de janelas floridas mal se conseguem distinguir por causa das nuvens brancas que se formam a sua volta. 

E as pedras da calçada transformam as ruelas quotidianas num labirinto misterioso. Quase tão sinistro como o de Minotauro. 

O coração bate mais depressa. À medida que avanço a sensação é a de entrar num livro. Talvez nas perdidas brumas de Avalon, reencontrando Rei Artur e a Távola Redonda ou simplesmente num misterioso gandoleiro veneziano...não sei... Mas a vontade é de continuar até o fim, redescobrindo a minha rua, a minha cidade, que, por momentos mágicos, se torna tão desconhecida...

Portugal 2007

Tuesday, November 27, 2007

Procurando...

Procuro uma razão inexistente para as coisas fazerem sentido.

No entanto, quanto mais procuro menos nexo elas têm...

O sistemático falhanço dos meus actos começam a frustar-me. Cacos espalhados pelo chão, vidros pontiagudos reflectem uma realidade estilhaçada.

Sonho de olhos abertos em vez de viver de olhos fechados.

Vejo toda a minha vida a acontecer em frente aos meus olhos como uma glamorosa película.

Mas nada acontece. Onde estão os frutos dessa árvore tão torta e esquálida que é a minha vida?

Procuro e continuo procurando razões e desculpas para estar a aqui.

O meu proposito não sei qual é. Muito provavelmente nem existe. A soma de todas a formas geométricas a minha volta mais uma vez só dão caos. Circunferências e paralelepípedos flutuam ao longe e passam por mim como se nada fosse.

As cores são fortes, mas tristes. O desenho das ruas são agora disformes. E apesar da minha visão privilegiada (sim, porque vejo tudo de um segundo andar dum autocarro!) não consigo enxergar nada.

Houve tempos em que via fadas a sorrirem para mim e ouvia sininhos a tocar (ou não...). Mas agora a única coisa que vejo e que ouço são os meus próprios demônios. Monstrinhos bem feios de constituição física um tanto quanto estranha e estatura muito muito baixa. São eles que não me deixam avançar sobre a ponte ou que pelo menos não me deixam vê-la. Fica tudo tão desfocado pelas brumas da dúvida, da incerteza e da auto-compaixão. As únicas vezes que consigo realmente avançar piso os cacos da minha tão desprezível realidade, corto os pés e as minhas asas murcham. O sangue no chão nem é sangue e a dor nem é dor... é tudo apenas uma grande desilusão...

Procurando.... (II)


Mas ainda assim, os sonhos se não existissem que valor daríamos à vida?

Sei que metodicamente falando nada do que disse, pensei ou sonhei tem algum sentido ou, para que conste, qualquer importância.

Só que o facto de palavras serem escritas ou varridas pelo ventos faz com que sejam de certa forma ouvidas.

Não que isto leve a alguma parte, de forma nenhuma... Mas pode conferir o tal sentido, razão ou propósito...?

...ou talvez não...

Londres 2007