Procuro uma razão inexistente para as coisas fazerem sentido.
No entanto, quanto mais procuro menos nexo elas têm...
O sistemático falhanço dos meus actos começam a frustar-me. Cacos espalhados pelo chão, vidros pontiagudos reflectem uma realidade estilhaçada.
Sonho de olhos abertos em vez de viver de olhos fechados.
Vejo toda a minha vida a acontecer em frente aos meus olhos como uma glamorosa película.
Mas nada acontece. Onde estão os frutos dessa árvore tão torta e esquálida que é a minha vida?
Procuro e continuo procurando razões e desculpas para estar a aqui.
O meu proposito não sei qual é. Muito provavelmente nem existe. A soma de todas a formas geométricas a minha volta mais uma vez só dão caos. Circunferências e paralelepípedos flutuam ao longe e passam por mim como se nada fosse.
As cores são fortes, mas tristes. O desenho das ruas são agora disformes. E apesar da minha visão privilegiada (sim, porque vejo tudo de um segundo andar dum autocarro!) não consigo enxergar nada.
Houve tempos em que via fadas a sorrirem para mim e ouvia sininhos a tocar (ou não...). Mas agora a única coisa que vejo e que ouço são os meus próprios demônios. Monstrinhos bem feios de constituição física um tanto quanto estranha e estatura muito muito baixa. São eles que não me deixam avançar sobre a ponte ou que pelo menos não me deixam vê-la. Fica tudo tão desfocado pelas brumas da dúvida, da incerteza e da auto-compaixão. As únicas vezes que consigo realmente avançar piso os cacos da minha tão desprezível realidade, corto os pés e as minhas asas murcham. O sangue no chão nem é sangue e a dor nem é dor... é tudo apenas uma grande desilusão...
Procurando.... (II)
Mas ainda assim, os sonhos se não existissem que valor daríamos à vida?
Sei que metodicamente falando nada do que disse, pensei ou sonhei tem algum sentido ou, para que conste, qualquer importância.
Só que o facto de palavras serem escritas ou varridas pelo ventos faz com que sejam de certa forma ouvidas.
Não que isto leve a alguma parte, de forma nenhuma... Mas pode conferir o tal sentido, razão ou propósito...?
...ou talvez não...
Londres 2007