Friday, September 19, 2008

Portas da Ilusão



              Partículas de realidades inexistentes invadem o meu cérebro cansado. Os estímulos estão à toda a volta e as múltiplas personalidades vão se revelando. Esquizofrenia pura. Vozes que sei que são minhas atribuo o timbre, a cor e a forma dos que me rodeiam. A mente funciona tão bem que me engano a mim mesma. Já não sei o que é real, o que é surreal e o que simplesmente não existe.
              Respiro fundo. Tento ouvir a música que me embala e me conduz por viagens mais coloridas. Por uns segundos, não sei bem, sinto a energia cósmica da fadinha e do duende que dançam com as almas. Tento me agarrar a ela, mas como já não é o coração é a mente a tomar conta a conexão desaparece. Ponho a mão na cabeça. Coloco as mãos nos ouvidos para calar a voz desses monstrinhos interiores. Sem resultado.
                Procuro o caminho para a rua. Sentir o frio da noite. Abro os olhos e apercebo-me que fui para o lado completamente oposto. Pânico começa a invadir-me. Agora ouço apenas a minha voz: "aguenta-te à jarda". Pois.
             Finalmente lá fora uma a uma elas estão à minha volta. Fisicamente digo a mim mesma que estou bem. Mentalmente estou perdida. Irreal, verdadeiro, sensorial. Controle. Perda total. Silêncio, imploro, só um minuto de silêncio.
               Mais uma tentativa para dançar, encaminhar todas estas sensações numa boa direcção. Terde de mais. O ego tomou conta, todos os alter egos falam mais profundo. Desorientação completa.
Sinto a conexão com algo superior, mas a forma experenciada e a própria atitude vivida não deixa margem para nada que não seja superficial.

            Horas de vozes mesquinhas, viagens paralelas, cérebro cansado, sol entreando pela janela me aconchega, mas não me adormece. Medo e cansaço. Vazio. Tudo vazio. Olhos de irmã, alma serena, olhar que acalma. Deixo ir, liberto as lágrimas, tento explicar-me o que me vai na alma. Agora pelo menos já consigo falar.
            Amiga sabida, enrola-me um charro, faz-me um chá e com voz materna me embala para finalmente adormecer.
            Noite sem sonhos, dormida durante o dia. Um despertador, um avião no dia seguinte. Uma semana de cérebro empapado. Se aprendi a lição?

                                 
 (créditos da imagem: maricarmenvillares.blogspot.com)

Londres 2008