Thursday, October 30, 2014

Transformando São Lourenço em uma cidade sustentável

Ong Terra das Águas está com nova cara, novas propostas, visões e valores e apresenta o movimento “Todos por São Lourenço”

por Deborah Penna

O movimento “Todos por São Lourenço” tem o ambicioso projeto de transformar o município em uma cidade sustentável. Para isso a nova diretoria reativou a ONG e trouxe novos conceitos e objetivos, adaptando-se aos novos tempos.
O jornal Correio do Papagaio conversou com Glaucia Esqueda, componente do conselho fiscal, facilitadora e gestora de projetos da ONG, para entender melhor esse novo momento. Ela falou de projetos concretos, ideais e novas formas de ver e estar no mundo, que sai do assistencialismo e passa pelo empoderamento do cidadão.
A nova visão do movimento Todos por São Lourenço é fazer do município uma cidade que respeite e preserve o meio ambiente, para que seja reconhecida como referência regional, nacional e internacional, assente em valores de apartidarismo, eficiência, equidade, fraternidade, igualdade, interdisciplinaridade, respeito ao cidadão, respeito à vida e à diversidade, transparência e universalidade.
“Todas as nossas ações são com foco na pessoa, no ser humano, no meio ambiente e no planeta; no respeito aos animais, com respeito à flora, aos rios,  à qualidade da água”, esclareceu Glaucia.
Muitas pessoas quando ouvem falar de OSCIP Terra das Águas associa a entidade ao atual prefeito José Neto, que foi o fundador da ONG em 1999. Hoje em dia o prefeito é um parceiro como cidadão e não faz mais parte da diretoria. “Mudamos o nome do movimento exatamente para mostrar que é outra história. E a tônica dessa nova diretoria é o apartidarismo, porque nós queremos atuar e nós atuaremos independentemente de quem estiver no poder”, explicou ela. “É claro que vamos fazer parcerias. Não tem como falar em trabalhar com a população sem termos parceria com a prefeitura, com os vereadores, com o poder judiciário. A gente vai trabalhar junto, mas não é ‘misturado”, conclui.

Os projetos
O movimento tem vários projetos que devem ser desenvolvidos a curto, médio e longo prazos para atingir a meta da sustentabilidade. O projeto mais abrangente e de prazo mais longo é o da coleta seletiva. O grupo se propõe, como primeiro passo, revitalizar a cooperativa de catadores, pois eles são a base para o projeto de coleta seletiva. Após estruturar a cooperativa e reunir todos os catadores será iniciada a articulação e captação de recursos.
A ONG está fechando uma importante parceria com o SAAE (Sistema Autônomo de Água e Esgoto), que hoje é a entidade responsável por toda a política de resíduos sólidos, que além de parceiros financeiros poderão dar também suporte técnico. Segundo Esqueda, essa questão já está bem adiantada e ainda este ano a ONG pretende começar a concretizar etapas desse projeto.

“A nossa meta é ficar parecida com Itaúna, cidade do norte de Minas, onde os catadores têm uma renda média de 3 mil e 200 reais por mês só com a coleta seletiva”, explica.
Paralelamente ao projeto de coleta seletiva estão outros que caminham lado a lado para a viabilização da sustentabilidade que a ONG procura trazer para São Lourenço. Um deles é o de humanização no atendimento ao cidadão, promovendo cursos no setor público e privado e o de educação hidroambiental nas escolas, residências, indústria e comércio, conscientizando a população a, gradativamente, mudar suas atitudes.
Outro projeto é o da auto-sustentabilidade das organizações do terceiro setor da cidade, sendo ele as associações de moradores de bairros e as entidades que trabalham com idosos e crianças. São entidades que já atuam na área social, mas que estão sem profissionalização. “As organizações do terceiro setor fazem um trabalho maravilhoso, super eficiente, fazem milagre com os poucos recursos que têm. Nossa ideia é profissionalizar essas pessoas, dar suporte, ensinar a fazer projetos e colocar nossos especialistas à disposição”, explica Glaucia.
Primeiros passos
Tudo começa com o envolvimento das pessoas e com o despertar da consciência de cada um. “A ideia é que a gente se agrupe e não espere que as coisas aconteçam por algum fator externo”, esclarece ela.
O movimento já está com vários parceiros para começar a sua atuação: contadores, advogados, terapeutas, parceiros na Faculdade São Lourenço, parcerias com o SAAE e buscando a união para a concretização.
 “Vamos sair do assistencialismo que é próprio da ditadura. Só o ditador quer ficar dando o peixe. O democrata quer ensinar a pescar, e nossa ideia é essa. A gente acredita que todo mundo tem dentro de si a solução de seus problemas. E a solução vai ser feita em conjunto”, enfatiza Glaucia.
O empoderamento do cidadão passa pela compreensão de que ele é responsável por tudo o que acontece na sua casa, no seu bairro e na sua cidade.

Cidades em transição
O conceito de “cidades em transição” apareceu em 2004, apresentado pelo permacultor inglês Rob Hopkins, com o objetivo de transformar as cidades em modelos sustentáveis, menos dependentes do petróleo, mais integradas à natureza e mais resistentes a crises externas, tanto econômicas como ecológicas. “A ideia de transição é estarmos todos envolvidos, sendo partes ativas dessa mudança; é as pessoas estarem mais conscientes em relação ao mundo em que vivem, pensando na forma como eles realmente querem viver e realizando a mudança de baixo para cima”. Esta é a definição do primeiro projeto de cidade em transição do mundo, criado na Inglaterra.
O conceito é atual e extremamente importante nos dias de hoje, quando estamos prestes a  esgotar os recursos naturais do Planeta e onde a violência atinge os mais altos níveis.
Hoje o movimento se espalhou pelo mundo todo, e São Lourenço está sendo pioneira em Minas Gerais ao dar início a um trabalho em direção à sustentabilidade e humanização dos serviços.
A ONG Todos por São Lourenço está trazendo conceitos novos e diferentes num momento de grandes mudanças planetárias. O jornal Correio do Papagaio estará acompanhando o trabalho realizado pela ONG.

Thursday, October 9, 2014

Crer- Ser: educação e arte em ação

Projeto é exemplo de ação social e cultural, abrindo portas para as crianças e adolescentes de São Lourenço, Minas Gerais

por Deborah Penna


O projeto Crer-Ser atua em São Lourenço há 10 anos. Fundando em 2004, nasceu da necessidade de dar uma nova oportunidade para os adolescentes da cidade, uma iniciativa particular de Carmélia Regina da Silva, apoiada pela Secretaria de Desenvolvimento Social de São Lourenço.
Atualmente o projeto trabalha com 280 adolescentes dos 10 aos 21 anos, de todas as classes sociais.
O Correio do Papagaio foi conhecer mais de perto esse projeto que deu certo. Que dá certo.
Muito além de um projeto social, o Projeto Crer-Ser é uma porta de entrada para um mundo de cores e de exploração dos sentidos que é o mundo da arte que, de outro modo, muitos adolescentes não conseguiriam entrar
Para Ana Lúcia Pilz Borba, coordenadora do projeto, o Crer-Ser é o que o mundo deveria ter e ser. “É um lugar onde valorizamos os alunos e também onde trabalhamos várias questões culturais. É muito mais do que a própria aula, existe todo um contexto de valores humanos”, afirma.
E muitas vezes a arte é utilizada como ferramenta para ultrapassar as dificuldades.  “Temos muitas crianças encaminhadas, que estão em situação de risco, que passaram por problemas do conselho tutelar, etc, e eles encaminham o adolescente para o projeto como terapia mesmo”, conta Lívia Maria de Freitas, professora de tecelagem que trabalha no projeto desde a sua fundação.
A criança não é problemática mas sim o ambiente em que se encontra. Tanto que em 10 anos de atuação o projeto nunca teve casos de problemas com essas crianças-risco que foram encaminhadas. “A grande maioria vê isso aqui como a sua segunda ou até primeira casa”, explica o instrutor de capoeira, Jibóia Mineiro, que também está no projeto desde a sua fundação.
O adolescente experiencia através da arte um fortalecimento de caráter e acrescenta oportunidades ao seu mundo. “A oportunidade de você lidar com a arte, com a cultura, com o folclore, eu acho que é um instrumento de formação.”, afirma a professora de tecelagem.
Cainã Chiarini, aluno do projeto há 8 anos, diz sentir-se parte de uma família. “Além de me ensinar vários ofícios, como a música e o teatro, como pessoa mesmo eu aprendi muito, aprendi a me soltar mais, a pertencer a um grupo. O projeto me mudou bastante”, afirma.
 “Temos vários exemplos de crianças que hoje em dia viraram professores aqui no projeto. E temos outras crianças que saem daqui e se profissionalizam lá fora. Alunos que começaram aqui a aprender música e agora estão na faculdade de música, ou de pedagogia. É muito gratificante acompanhar essa evolução”, acrescenta Lívia Maria de Freitas.
O projeto Crer-Ser oferece gratuitamente 17 oficinas: capoeira, circo, desenho, pintura, teatro, tecelagem, ballet, jazz, dança de rua, canto, coral e música (violão, violino, violoncelo, viola de arco, cavaquinho, bandolim, flauta doce e flauta transversal, percussão).
Além de ser o portal de acesso para um novo mundo, repleto de arte, música e movimento, o Projeto Crer-Ser serve também como uma plataforma de integração. Crianças de diferentes bairros e até mesmo cidades se encontram num mesmo espaço para compartilhar das mesmas oficinas e sonhos, estimulando a convivência e a aceitação de pessoas diferentes, de diferentes idades e classes.
“É interessante que hoje em dia em todas as escolas existe o tal do bullying. Aqui não rola nada disso, é um magnetismo do bem maravilhoso. Trabalhamos muito essa historia da aceitação, do trabalho de grupo.”, ressalta Jibóia.
Para participar qualquer adolescente pode chegar na sede do projeto (situada na rua Ida Mascarenhas Lage, nº 497, no bairro Nossa Senhora de Fátima), acompanhado pelos pais, mas terá que se adequar às vagas. Há uma procura grande por determinadas oficinas, mas caso não haja vaga o aluno é colocado em lista de espera e é sugerida a participação em outra oficina. “Às vezes aquele aluno que veio para o violão ele entra numa outra oficina para esperar o violão e se encontra nela. Acontece muito isso. Ou às vezes ele continua ali e quando chegar na hora do violão ele faz as duas coisas. E tem aluno que chega e quer entrar em qualquer coisa, quer fazer parte do projeto”, explica Lívia.
Apesar de ter dado certo, dar certo e ser um exemplo de ação social e cultural na cidade e até na região, o Projeto Crer-Ser ainda tem muitos sonhos.
 “Temos o sonho da sede própria, até porque não estamos mais cabendo aqui. Fazemos mapas para caber as aulas de música dentro das salas de música. E sonhamos também com um teatro. Quando temos as apresentações aqui o projeto lota, e não cabe todo mundo. E a cidade não tem um teatro. Agora vamos fazer a apresentação na Eubiose, que está cedendo o espaço para o Festival de Artes Cênicas. Mas essa peça que estamos montando tem a participação de cerca de 80 crianças, todas as oficinas estão inseridas na peça, tem street dance, tem capoeira, a música vai ser tocada ao vivo, enfim precisaria de um palco, de um teatro.”, sonha Lívia.
Ana, a coordenadora do projeto, acrescenta que seria importante mais independência financeira, mais apoios e investimentos. “Sonho fazer com que o projeto seja mais reconhecido e que seja uma referência de educação e cultura no país”, diz.
 “Hoje em dia sinto que o projeto já é mais independente. Em relação à própria energia dele; é como um ser humano, ele procura ficar do lado das pessoas que se identificam com ele”, explica o instrutor de capoeira. “Estamos aqui há 10 anos, mas se hoje nós sairmos, o projeto já caminha sozinho.”, conclui.
As conquistas do Projeto Crer-Ser são um exemplo de cuidado com o próximo, com a criança e com o adolescente através da arte, do trabalho de grupo, da alegria e do amor.