Ong Terra das Águas está com nova
cara, novas propostas, visões e valores e apresenta o movimento “Todos por São
Lourenço”
por Deborah Penna
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O jornal Correio do Papagaio conversou com
Glaucia Esqueda, componente do conselho fiscal, facilitadora e gestora de
projetos da ONG, para entender melhor esse novo momento. Ela falou de projetos
concretos, ideais e novas formas de ver e estar no mundo, que sai do
assistencialismo e passa pelo empoderamento do cidadão.
A nova visão do movimento Todos por São Lourenço
é fazer do município uma cidade que respeite e preserve o meio ambiente, para
que seja reconhecida como referência regional, nacional e internacional,
assente em valores de apartidarismo, eficiência, equidade, fraternidade,
igualdade, interdisciplinaridade, respeito ao cidadão, respeito à vida e à
diversidade, transparência e universalidade.
“Todas as nossas ações são com foco
na pessoa, no ser humano, no meio ambiente e no planeta; no respeito aos
animais, com respeito à flora, aos rios, à qualidade da água”, esclareceu Glaucia.
Muitas
pessoas quando ouvem falar de OSCIP Terra das Águas associa a entidade ao atual
prefeito José Neto, que foi o fundador da ONG em 1999. Hoje em dia o prefeito é
um parceiro como cidadão e não faz mais parte da diretoria. “Mudamos o nome do
movimento exatamente para mostrar que é outra história. E a tônica dessa nova
diretoria é o apartidarismo, porque nós queremos atuar e nós atuaremos
independentemente de quem estiver no poder”, explicou ela. “É claro que vamos
fazer parcerias. Não tem como falar em trabalhar com a população sem termos
parceria com a prefeitura, com os vereadores, com o poder judiciário. A gente
vai trabalhar junto, mas não é ‘misturado”, conclui.
Os projetos
O
movimento tem vários projetos que devem ser desenvolvidos a curto, médio e
longo prazos para atingir a meta da sustentabilidade. O projeto mais abrangente
e de prazo mais longo é o da coleta seletiva. O grupo se propõe, como primeiro
passo, revitalizar a cooperativa de catadores, pois eles são a base para o
projeto de coleta seletiva. Após estruturar a cooperativa e reunir todos os
catadores será iniciada a articulação e captação de recursos.
A
ONG está fechando uma importante parceria com o SAAE (Sistema Autônomo de Água
e Esgoto), que hoje é a entidade responsável por toda a política de resíduos
sólidos, que além de parceiros financeiros poderão dar também suporte técnico.
Segundo Esqueda, essa questão já está bem adiantada e ainda este ano a ONG
pretende começar a concretizar etapas desse projeto.
“A nossa
meta é ficar parecida com Itaúna, cidade do norte de Minas, onde os catadores
têm uma renda média de 3 mil e 200 reais por mês só com a coleta seletiva”,
explica.
Paralelamente
ao projeto de coleta seletiva estão outros que caminham lado a lado para a
viabilização da sustentabilidade que a ONG procura trazer para São Lourenço. Um
deles é o de humanização no atendimento ao cidadão, promovendo cursos no setor
público e privado e o de educação hidroambiental nas escolas, residências,
indústria e comércio, conscientizando a população a, gradativamente, mudar suas
atitudes.
Outro
projeto é o da auto-sustentabilidade das organizações do terceiro setor da cidade,
sendo ele as associações de moradores de bairros e as entidades que trabalham
com idosos e crianças. São entidades que já atuam na área social, mas que estão
sem profissionalização. “As organizações do terceiro setor fazem um trabalho
maravilhoso, super eficiente, fazem milagre com os poucos recursos que têm.
Nossa ideia é profissionalizar essas pessoas, dar suporte, ensinar a fazer
projetos e colocar nossos especialistas à disposição”, explica Glaucia.
Primeiros passos
Tudo começa com o envolvimento das pessoas e com o
despertar da consciência de cada um. “A ideia é que a gente se agrupe e
não espere que as coisas aconteçam por algum fator externo”, esclarece ela.
O
movimento já está com vários parceiros para começar a sua atuação: contadores,
advogados, terapeutas, parceiros na Faculdade São Lourenço, parcerias com o
SAAE e buscando a união para a concretização.
“Vamos sair do assistencialismo que é próprio
da ditadura. Só o ditador quer ficar dando o peixe. O democrata quer ensinar a
pescar, e nossa ideia é essa. A gente acredita que todo mundo tem dentro de si
a solução de seus problemas. E a solução vai ser feita em conjunto”, enfatiza
Glaucia.
O
empoderamento do cidadão passa pela compreensão de que ele é responsável por
tudo o que acontece na sua casa, no seu bairro e na sua cidade.
Cidades em transição
O
conceito de “cidades em transição” apareceu em 2004, apresentado pelo
permacultor inglês Rob Hopkins, com o objetivo de transformar as cidades em
modelos sustentáveis, menos dependentes do petróleo, mais integradas à natureza
e mais resistentes a crises externas, tanto econômicas como ecológicas. “A ideia
de transição é estarmos todos envolvidos, sendo partes ativas dessa mudança; é
as pessoas estarem mais conscientes em relação ao mundo em que vivem, pensando
na forma como eles realmente querem viver e realizando a mudança de baixo para
cima”. Esta é a definição do primeiro projeto de cidade em transição do mundo, criado
na Inglaterra.
O
conceito é atual e extremamente importante nos dias de hoje, quando estamos
prestes a esgotar os recursos naturais
do Planeta e onde a violência atinge os mais altos níveis.
Hoje
o movimento se espalhou pelo mundo todo, e São Lourenço está sendo pioneira em
Minas Gerais ao dar início a um trabalho em direção à sustentabilidade e
humanização dos serviços.
A
ONG Todos por São Lourenço está trazendo conceitos novos e diferentes num
momento de grandes mudanças planetárias. O jornal Correio do Papagaio estará
acompanhando o trabalho realizado pela ONG.