Projeto é exemplo de ação social e
cultural, abrindo portas para as crianças e adolescentes de São Lourenço, Minas Gerais
por Deborah Penna
Atualmente o
projeto trabalha com 280 adolescentes dos 10 aos 21 anos, de todas as classes
sociais.
O Correio do Papagaio foi conhecer mais de perto esse
projeto que deu certo. Que dá certo.
Muito além de um projeto social, o Projeto Crer-Ser é uma
porta de entrada para um mundo de cores e de exploração dos sentidos que é o
mundo da arte que, de outro modo, muitos adolescentes não conseguiriam entrar
Para Ana Lúcia Pilz Borba, coordenadora do projeto, o
Crer-Ser é o que o mundo deveria ter e ser. “É um lugar onde valorizamos os
alunos e também onde trabalhamos várias questões culturais. É muito mais do que
a própria aula, existe todo um contexto de valores humanos”, afirma.
E muitas vezes a arte é utilizada como ferramenta para
ultrapassar as dificuldades. “Temos
muitas crianças encaminhadas, que estão em situação de risco, que passaram por
problemas do conselho tutelar, etc, e eles encaminham o adolescente para o
projeto como terapia mesmo”, conta Lívia Maria de Freitas, professora de tecelagem
que trabalha no projeto desde a sua fundação.
A criança não é problemática mas sim o ambiente em que se
encontra. Tanto que em 10 anos de atuação o projeto nunca teve casos de
problemas com essas crianças-risco
que foram encaminhadas. “A grande maioria vê isso aqui como a sua segunda ou até
primeira casa”, explica o instrutor de capoeira, Jibóia Mineiro, que também
está no projeto desde a sua fundação.
O adolescente experiencia através da arte um fortalecimento
de caráter e acrescenta oportunidades ao seu mundo. “A oportunidade de você
lidar com a arte, com a cultura, com o folclore, eu acho que é um instrumento
de formação.”, afirma a professora de tecelagem.
“Temos vários
exemplos de crianças que hoje em dia viraram professores aqui no projeto. E temos
outras crianças que saem daqui e se profissionalizam lá fora. Alunos que
começaram aqui a aprender música e agora estão na faculdade de música, ou de pedagogia.
É muito gratificante acompanhar essa evolução”, acrescenta Lívia Maria de
Freitas.
O projeto Crer-Ser oferece gratuitamente 17 oficinas:
capoeira, circo, desenho, pintura, teatro, tecelagem, ballet, jazz, dança de
rua, canto, coral e música (violão, violino, violoncelo, viola de arco,
cavaquinho, bandolim, flauta doce e flauta transversal, percussão).
Além de ser o portal de acesso para um novo mundo, repleto
de arte, música e movimento, o Projeto Crer-Ser serve também como uma plataforma
de integração. Crianças de diferentes bairros e até mesmo cidades se encontram
num mesmo espaço para compartilhar das mesmas oficinas e sonhos, estimulando a
convivência e a aceitação de pessoas diferentes, de diferentes idades e classes.
“É interessante que hoje em dia em todas as escolas existe o
tal do bullying. Aqui não rola nada
disso, é um magnetismo do bem maravilhoso. Trabalhamos muito essa historia da
aceitação, do trabalho de grupo.”, ressalta Jibóia.
Apesar de ter dado certo, dar certo e ser um exemplo de ação
social e cultural na cidade e até na região, o Projeto Crer-Ser ainda tem
muitos sonhos.
“Temos o sonho da
sede própria, até porque não estamos mais cabendo aqui. Fazemos mapas para
caber as aulas de música dentro das salas de música. E sonhamos também com um
teatro. Quando temos as apresentações aqui o projeto lota, e não cabe todo
mundo. E a cidade não tem um teatro. Agora vamos fazer a apresentação na
Eubiose, que está cedendo o espaço para o Festival de Artes Cênicas. Mas essa
peça que estamos montando tem a participação de cerca de 80 crianças, todas as
oficinas estão inseridas na peça, tem street
dance, tem capoeira, a música vai ser tocada ao vivo, enfim precisaria de
um palco, de um teatro.”, sonha Lívia.
Ana, a coordenadora do projeto, acrescenta que seria
importante mais independência financeira, mais apoios e investimentos. “Sonho
fazer com que o projeto seja mais reconhecido e que seja uma referência de educação
e cultura no país”, diz.
“Hoje em dia sinto
que o projeto já é mais independente. Em relação à própria energia dele; é como
um ser humano, ele procura ficar do lado das pessoas que se identificam com ele”,
explica o instrutor de capoeira. “Estamos aqui há 10 anos, mas se hoje nós
sairmos, o projeto já caminha sozinho.”, conclui.
As conquistas do Projeto Crer-Ser são um exemplo de cuidado
com o próximo, com a criança e com o adolescente através da arte, do trabalho
de grupo, da alegria e do amor.
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