Três jovens estão sentadas num banco e divertem-se tirando fotografias umas às outras. O riso delas soa como o de crianças. Num canto está uma ruiva com a cara pintada de sardas, navegando dentro das páginas do livro que lê, absorta de toda e qualquer atmosfera presente naquela estação. Ela muito provavelmente é francesa, ou não, não sei. Noutro canto não muito distante está um rapaz. Não dá para imaginar a sua nacionalidade, pode ser de qualquer lugar. Ao contrário da ruiva que espera há apenas alguns minutos, ele espera já faz horas. Remexe-se inquieto. Pára de ouvir a música que ouvia há já algum tempo. Lê o jornal, relê. Está cansado da espera e observa, não a estação, mas o mundo à sua volta e se interroga sobre as suas decisões e os caminhos que tomou. No canto oposto está uma família. Esperam há poucos minutos. O pai toca gaita para entreter as crianças que, como todas as crianças, estão irrequietas. São franceses sem dúvida. Regressam à casa depois de uma viagem tranquila. Ninguém parece aperceber-se do frio, excepto um ou outro aconchego ao casaco.
No centro está um casal de velhinhos. Cada um lê a sua revista e espera. Esperam por uma vida que não veio, por uma oportunidade que falhou. Já não se falam. Provavelmente por causa dos anos que já devem estar juntos não têm mais nada a dizer um ao outro. Ao lado deles está um grupo de amigas. Discutem alegremente para onde irão e o que vão fazer a seguir. O cansaço é já evidente nos seus rostos e nos seus corpos. Mas elas pouco se importam. E tão pouco se importam de esperar minutos, horas ou dias.
E assim vão passando as horas nesta estação, que para mim tornou-se gélida e esfria os corações. Contudo, ninguém parece ter dado conta disso. As meninas continuam a tirar fotografias e a rirem como se fosse a coisa mais divertida do mundo. A ruiva continua inerte na sua viagem pelas linhas, palavras e frases do seu romance. O rapaz voltou à sua música e espera. A família conversa, deixando os seus pensamentos deambularem pelas ruas desertas dessa cidade. Assim como os velhos, que continuam sem se falarem, imaginando como seria a vida se a tivessem vivido de forma diferente. Olham para o grupo de jovens ao lado deles com um certo desprezo e indiferença, mas ao mesmo tempo com alguma inveja de não terem tido coragem de se aventurarem por caminhos menos cómodos.
E eu espero sentada num canto dessa estação e observo todas as pessoas que completam esse quadro. Fantasio e espero… agora já só falta uma hora.
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