(créditos da imagem: www.akatu.org.br)
No momento em que o nosso
Planeta Água começa a ressentir o uso intensivo de seus recursos naturais, a
água se transforma no novo ouro do século XXI, um ouro azul. E, por causa
disso, os olhos do mundo estão cada vez mais voltados para a América do Sul.
As águas subterrâneas
sul-americanas são como rios gigantes entrelaçados numa complexa teia, formando
um dos maiores reservatórios de água pura do mundo, resquícios de uma era
pré-histórica de mais de 100 milhões de anos.
Esses rios que correm
debaixo da terra são conhecidos como Sistema Aquífero Guarani, nome dado em
homenagem à nação indígena que outrora habitou essa região, ocupando uma área
de 1,2 milhões de km2, estendendo-se pelo Brasil, Argentina, Paraguai e
Uruguai.
Mas afinal, o que se sabe do
Aquífero Guarani, esse gigante rio subterrâneo?
Sabe-se que há um interesse
internacional declarado, que há uma grande falta de conscientização social e que
a sua água é de elevada qualidade, mais protegida da contaminação que outros
rios ou nascentes.
Hoje em dia, só no Brasil,
cerca de 500 cidades são abastecidas por esse Aquífero que, se preservado, pode
sustentar uma população de mais de 700 milhões de pessoas.
Em 1999, o Banco Mundial esteve
no Brasil com o objectivo de confirmar as informações do governo americano
sobre o potencial da água do Aquífero Guarani. Daí resultou um estudo de aproximadamente
R$ 50 milhões para reunir informações e conhecimentos sobre esta reserva.
Na mesma época, o interesse
de grandes companhias como a Coca-cola e a Nestle também se voltava para a água.
Várias fontes de água localizadas nas áreas de recarga e afloramento do
Aquífero foram privatizadas por essas transnacionais.
Em 2011, o Banco Mundial
anunciou a implementação de um novo projeto, este no valor de R$168 milhões. Em
parceria com o governo brasileiro e a Agência Nacional da Água, o Interáguas foi
criado, tendo como principal objetivo as áreas de desenvolvimento do setor,
como o gerenciamento dos recursos naturais e o risco de desastres naturais,
entre outros.
Adolfo Esquivel, ativista argentino e Prêmio Nobel da Paz, afirma
que o interesse internacional é mais do que meramente ambiental e social e que
a verdadeira guerra no futuro será por causa da água e não por causa de
petróleo.
A presença norte-americana faz-se sentir sutilmente, mas não passa
despercebida pelos ativistas, especialmente desde a construção de uma base
militar na Tríplice Fronteira (que fica entre Paraguai, Argentina e Brasil).
A lembrança da dominação colonial em todo o continente não deixa
que suspeitas e teorias de conspiração cessem de existir.
A pressão dos ativistas para com o Mercosul culminou na assinatura
de um acordo entre os países por onde Aquífero se estende, em 2010. Esse acordo prevê medidas para a conservação dos recursos hídricos
do manancial, onde cada um dos países tem a soberania no uso da água e é também
responsabilizado pela poluição.
Agora, se por um lado grandes indústrias buscam apropriar-se das
áreas desses rios subterrâneos, existem outras formas de degradação igualmente
perigosas, que podem agravar a dificuldade de acesso da população a esse ouro
azul.
O lençol freático do Aquífero ajuda a conservar uma água de
excelente qualidade, mas o risco de contaminação é elevado. O uso indiscriminado
de agrotóxicos e o despejo de resíduos sem tratamento nas áreas de recarga, que
os absorve como uma esponja, é uma séria ameaça que implicaria a renúncia ao
próprio recurso.
Embora a maioria da
população não conhece a sua importância, grandes grupos econômicos o cobiça ao
mesmo tempo que a agro indústria o degrada.
Com o crescimento econômico
global, o consumo de água, seja doméstico, na agricultura ou na indústria,
aumentou duas vezes mais que o crescimento da população mundial durante o
último século.
Estamos esvaziando e
poluindo as grandes reservas de água do planeta mais rápido do que elas podem
se renovar: estamos fazendo o nosso Planeta Água morrer de sede.
A sede é tanta que os
lugares afetados começam a ser a grande Europa e várias regiões dos Estados
Unidos.
A importância desse ouro
azul é maior que a de qualquer outro recurso que estamos esgotando, e por isso
o foco está cada vez mais em quem possui essa nova riqueza, levantando novas
questões sobre a Governança da Água.
Mas afinal de quem é o
direito de vender a água e para quem?
O tema da água foi largamente falado na Rio+20, sendo cobrado o
cumprimento da Resolução da ONU, aprovada em 2010, que consagra o Direito
Humano à Água e Saneamento. E mesmo antes de encerrar os debates o plenário
elegeu o “Direito à Agua” como recomendação para constar no documento final da.
Rio+20.
Mesmo assim, muitos consideraram esse documento pouco ambicioso e
muito generalista, afirmando que a Rio+20 foi um fracasso.
Ativistas, ecologistas, estudantes, na verdade, a maioria dos que
participavam na Cúpula dos Povos, estão conscientes desse direito e
necessidade. Mas enquanto isso, do outro lado, as grandes multinacionais assinavam
compromissos em prol do que chamam de “capital natural” e “economia verde”,
que, sugerem os ativistas, são apenas sinônimos para mercantilização da
natureza.
É portanto urgente a conscientização de toda a população para a
existência desses rios subterrâneos que de um jeito quase milagroso preservam a
nossa mais preciosa riqueza: o ouro azul da Humanidade.
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