Estou tão feliz e grata por poder estar aqui! Não foi fácil a jornada até aqui em cima e a constante dúvida se poderia ficar ou não (e ainda não tenho a certeza disso....!) fez com que o sim de Norbu fosse ainda mais especial!
Hoje mudei as minhas coisas para a casa de Dolkar, uma linda menina de 25 anos que mora com a mãe. Uma menina/ mulher com coração e alma de criança.
Há algo acontecendo no campo, como um campeonato de arco e flecha e muitos vieram de fora, de outros campos de refugiados para participar.
As mulheres estão busy busy cozinhando e fazendo chá. Mãos à obra, então! Sentei-me com elas e aprendi a fazer momo e ajudei no que pude.
As crianças gradativamente começam a ter menos medo de mim e no fim do dia já não desgrudam, pulando em cima de mim e me dizendo milhões de palavras em inglês e depois em tibetano.
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Entretanto a mãe voltou para a casa e ela teve que ir à vendinha fechar as contas.
A mãe dela fala pouco inglês, tanto quanto eu falo pouco hindi, por isso a comunicação é mais por gestos do que qualquer outra coisa. É impressionante como estou aprendendo a ficar em silêncio. A ficar bem sem entender tudo o que está acontecendo à minha volta.
Já durante a tarde maravilhosa que passei ajudando as mulheres senti isso. Todos falavam ao meu redor, algumas vezes sobre mim, consegui entender isso, mas não compreendia uma palavra.
Acho que devagarinho vou aprender um pouco de tibetano, mesmo assim é muito bom esse silêncio forçado, esse falar com o olhar.... e uma ótima oportunidade para aprender a ouvir.
É mágica a energia que se sente aqui, a harmonia e simplicidade com que eles vivem. Há paz e serenidade no olhar deles. São sábios e sinceros. Quero muito entrar mais a fundo nesta cultura, neste jeito de viver. Espero poder ficar aqui um mês inteiro....
Vou agora jantar, nem sei bem o quê. Apenas sei que voltei a comer carne, até porque a alimentação aqui é basicamente a base de carne. Há vários pedaços de carne secando em uns varais improvisados que atravessam a sala. Um pouco sinistro, mas cultural, vai fazer o quê? Estamos a mais de 4 mil metros de altitude. A comida aqui é escassa e difícil de chegar nessas encostas geladas.
Além de voltar a comer carne, tenho também experimentado coisas estranhas que nunca pensei antes! O chá tibetano que a primeira impressão é a coisa mais horrível do mundo, afinal não é tão mau assim, é só chá salgado..... e também snifei um pózinho amarelado que a mãe me deu e que por gestos eu acho que entendi que fazia bem ao nariz entupido à respiração, estilo rapé.
Experiências novas, sensações novas, alimentos novos..... fascinante essas descobertas, mesmo sentindo às vezes que estou por fora, não entendendo nada e totalmente estranha a eles, uma alienígena, me sinto também acolhida e humildemente começo a sentir-me pertencer...
15.05.09 - Tibetan Settlement (Marpha, Nepal)
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