Thursday, September 4, 2014

Campo de refugiados tibetanos - dia 4

Hoje foi um dia bom. A pouco e pouco me sinto mais em casa, pertencendo a esta gigante família. Eles vão se acostumando à minha presença. As crianças fazem a minha alegria durante o dia e os velhinhos me apaixonam mais a cada dia.
Hoje foi o último dia do festival, que dura 8 dias. Muitos vêm de outros campos para participar nos jogos. Há comida e bebida para todas. Há sorrisos e alegrias.
Não consegui entrar na minha rotina de Yoga e meditação, mas também aqui o tempo é diferente e as horas de sol, ou melhor, de não frio, são as horas que passo na escola. Mas mesmo assim estou plena (e cheia de comida também!), é um lugar mágico!
Aprecio esta cultura, a harmonia com que eles vivem entre eles, a alegria que compartilham. É curioso ver também como os jovens se comportam. De um lado, os rapazes todos estilosos sentam em grupo, bebem e fumam. Do outro, as meninas, também super estilosas, ajudam as mães e tias na cozinha e trocam olhares e risinhos. Falam deles muito provavelmente e há todo um jogo, sútil suficiente para os mais velhos não notarem.
A minha presença não faz com que nenhum comportamento se modifique. É como se fosse uma pequena mosca apreciando tudo de perto, mas sem que a minha presença altere seja o que for.
Às vezes uma das senhoras mais velhas senta do meu lado e fala durante uns minutos. Com um sorriso tento dar a entender que não estou entendendo nada. Elas sorriem de volta, a maior parte das vezes com um sorrisão desdentado e sentam em silêncio ao meu lado. Quem me dera poder falar tibetano fluentemente ou pelo menos entender... Mas assim também é bom, pratico o meu silêncio e aprendo a ouvir mais com a voz do coração.
O fim dos jogos normalmente é celebrado com conto e danças tradicionais. Esperei ansiosamente por isso a tarde inteira de máquina em punho. Mas o fim veio e eles me explicaram que não houve música em respeito ao que está acontecendo no Tibete. Este ano eles nem celebraram o ano novo (24 de Fevereiro) por causa disso.
Hoje de manhã li o jornal "Human Rights" e me arrepiei com as histórias que ali vinham. Um povo tão doce, com uma cultura tão bonita e pacífica a ser tratado desta forma é absolutamente revoltante. E pensar que eles partiram em exílio e se tornaram refugiados em 1959, há 50 anos!! E mesmo assim há relatos de tortura e humilhação para com os que ainda ali vivem. Sem falar da descriminação que eles também passam aqui no Nepal (e provavelmente também na Índia e nos outros países onde se refugiaram....). Fiquei com uma vontade enorme de estudar profundamente chinês e tibetano e abraçar a causa com a minha alma. Sei que é muito pouco provável eu ir ao Tibete e fazer tudo o que me veio à cabeça enquanto lia o pequeno jornal. Mas sei também que não vou ser mais indiferente e vou fazer o que puder para divulgar, não só o sofrimento, mas sobretudo a beleza desse povo.
São talvez 8h da noite. O silêncio impera lá fora, só interrompido pelas fortes rajadas de vento, que são constantes a essa altitude. Estou cansada, mas plena de alegria, compaixão e amor. Vou dormir daqui a nada, mais uma vez muito grata por esta oportunidade de aqui estar e aprender com eles.
Boa noite.


"The impossible can be possible with will power."
H.H. Dalai Lama



18.05.09 - Tibetan Settlement (Marpha, Nepal)

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