Thursday, December 11, 2014

‘Vegan Yoga’ será lançado em SP, dia 17 de dezembro

Oberom faz lançamento do livro que fala sobre Yoga e veganismo na capital paulista

Nascido na zona rural de Soledade de Minas, Oberom cresceu ali mesmo, rodeado pela natureza. O mais velho de seus sete irmãos, aos 20 anos saiu em busca de novas aventuras e de descobertas pelo mundo. Essa sua primeira viagem intercontinental deu origem ao seu primeiro livro “Viajando na Luz”, lançado em 2008 e traduzido em três idiomas: inglês, francês e alemão.
Agora em 2014, com 30 anos, Oberom irá a lançar o seu terceiro livro, “Vegan Yoga”. O lançamento será no auditório da Livraria Cultura, na av. Paulista, em São Paulo, no dia 17 de dezembro. O autor pretende fazer ainda esse ano o lançamento do livro em São Lourenço e no Rio de Janeiro. O jornal Correio do Papagaio encontrou Oberom para uma entrevista onde ele fala sobre o livro, as suas viagens e o controverso e inconveniente veganismo.
A idéia para o “Vegan Yoga” surgiu em uma das suas muitas palestras sobre Yoga, em que lhe foi pedido para que não abordasse o tema do veganismo, que é a bandeira que carrega com maior comprometimento.
Oberom decidiu então falar sobre o ‘Yogasutras de Patanjali’, que é um dos tratados mais importantes do Yoga, mas sob a perspectiva vegana.“Eu peguei a ahimsa que é a não violência e falei da não violência no aspecto verbal, no aspecto físico e no aspecto ético, em relação aos outros habitantes do planeta. Eu peguei satya que é a verdade, e também fiz a mesma coisa: o aspecto verbal, o pensamento, a ação”, lembra, e questiona: “será que a gente está sendo coerente?, a gente acredita que os animais sentem?, será que a gente está sendo verdadeiro?”.
Deste modo, Oberom fez o que lhe foi pedido, mas ao mesmo tempo não deixou de falar pelos animais, que é um compromisso que assumiu para si mesmo. “São seres sencientes, que ninguém advoga por eles. Eles não têm esse poder de defesa, são seres inofensivos, inocentes e são bastante explorados por nossas atividades desnecessárias”, explica.
Da palestra o texto se transformou em monografia de uma pós-graduação em Yoga que Oberom fez. Após ser redigido enquanto ele estava acompanhando um retiro na Coreia do Sul, o manuscrito ganhou as referências exigidas pela academia, o que tornou o trabalho mais profundo em termo de pesquisas científicas e de referências.
Oberom dedicou 2014 para tornar essa monografia em um livro, humanizando a formalidade do trabalho acadêmico, trazendo a sua experiência, os seus pontos de vistas, o seu background cultural e relatos mais pessoais.
O livro foi lido e comentado por pessoas reconhecidas na área, tais como Sônia Felipe, autora do livro Galactolatria e Gerson D’Addio, consultor técnico da Yoga Journal, a principal revista de Yoga do mundo. Com isso, Oberom lançou a proposta à editora Alfabeto, a mesma que publicou seus outros dois livros, e conseguiu que o livro fosse publicado ainda este ano e será também traduzido para outros idiomas.
“Eu queria que saísse esse ano porque tem muitos dados que são de 2013 e de 2014 e eu não queria que entrasse em 2015 e o dado de 2013 já ficou lá para trás”, conta Oberom. “Eu sei que as informações ali são quentes. Não é uma viagem de alguém que é fanático e quer convencer todo mundo; são informações mesmo”, explica.
Oberom sente diferenças entre trabalhar como palestrante no Brasil e no exterior, principalmente quando se trata de veganismo. Ele sabe que é um tópico que geralmente choca a platéia e que é inconveniente. Mesmo assim, ele afirma que é um trabalho essencialmente de amor. “O veganismo toca a todas as minorias. O nosso desrespeito com os animais é a raiz de todos os preconceitos. Aceitar que um ser inocente seja subjugado e escravizado faz com que a gente banalize o nosso igual”, declara.
“Não adianta eu bater boca e querer que essa informação prevaleça e seja engolida à força. Se a pessoa não está receptiva, tem que enviar amor e de repente vai haver a sensibilização. Se não... ou a pessoa deixa de ouvir e vive na ignorância dela – e eu digo ignorância no sentido de ‘ignorar’ - , ou ela vai mudar”, acrescenta.
No seu dia a dia, além de palestrante internacional e escritor, Oberom dá aulas de Yoga em Soledade de Minas e em São Lourenço.
Com apenas 30 anos ele já ganhou o respeito e o reconhecimento pelo seu trabalho e para 2015 a sua agenda está repleta de compromissos, entre palestras na Europa, nos Estados Unidos, aulas de Yoga e viagem em grupo para a Índia.

Thursday, December 4, 2014

Ukiemana faz apresentação musical em SP

Banda são lourenciana é destaque em festival independente



A banda Ukiemana encerrou a quinta edição do ‘Festival Já Regou Suas Plantas?’ em grande estilo, no último sábado, dia 29 de novembro. Com um público fiel na capital paulista, a banda se apresentou e encantou os presentes, que cantavam as suas músicas e dançavam ao som do reggae de raiz.O festival é um evento gratuito comunitário, organizado pela rádio comunitária de Butantã (SP), a Cidadã FM, com o objetivo de divulgação e promoção da cultura reggae e Rastafar I, priorizando bandas independentes e autorais. Esta foi a quinta edição de 2014, realizada no Céu do Butantã, e para os organizadores a festa de encerramento não poderia ter sido melhor.
“O festival concretiza um passo, um fortalecimento dessa rede, como um movimento social, cultural e artístico e que conseguiu esse ano, através do ‘Já Regou Suas Plantas’, também o reconhecimento pelo poder público”, explica um dos organizadores do evento, Pedro Ribeiro, que faz também parte do coletivo ‘Já Regou suas Plantas’.
A banda de São Lourenço tem na história mais de 10 anos de caminhada, e sempre que se apresenta em São Paulo o reconhecimento pelo seu trabalho é grande.
“Ukiemana é uma banda que já está com a gente nesse intercâmbio com São Paulo há muitos anos. Conseguir trazer um ponto da rede que não é daqui de SP é muito importante para nós, porque conseguimos ampliar e fortalecer a nossa rede. Conseguimos fortalecer um laço interestadual e trazer um pouco da produção cultural de Minas e de São Lourenço aqui para a cidade”, afirma Pedro.
Para Jonathan O’jan, vocalista da banda Ukiemana, é muito gratificante cada vez que a banda se apresenta em São Paulo. “Estamos muito felizes em poder nos apresentar novamente em SP, principalmente ao lado de grandes bandas que a gente admira, além de sentir o carinho e recepção dos fãs que juntos vibraram e cantaram nossas músicas tornando o show ainda mais especial”, disse após a apresentação.
“Vim aqui só para ver Ukiemana. É uma banda especial, que quando se apresenta toca a todos os corações”, disse Júlio Costa, 22, de São Paulo, presente no festival.
O festival aconteceu das 14:00h às 20:30h, proporcionando um evento para toda a família e comunidade do Butantã, zona oeste de São Paulo e contou também com manobras de skate e premiação. Além de Ukiemana se apresentaram outras quatro bandas de São Paulo - Bloco Kaya na Gandaia, Filhos da Terra Reggae, Jah I Ras, Veja Luz – e ainda teve a discotecagem de High Public Sound.
A idéia do Festival nasceu do sucesso do programa de rádio “Já regou suas plantas?”, fundado em 2002 na rádio livre Várzea, e hoje no ar na Rádio Comunitária do Butantã, Cidadã FM (www.cidadafm.com.br - 87,5 FM).
Hoje, a Rádio Comunitária conseguiu ser contemplada pelo edital do Ministério da Cultura e se transformar em Ponto de Cultura, o que possibilitará mais realizações para o ano de 2015.


Thursday, November 27, 2014

APOMM promove feira semanal de produtos orgânicos

Todos os sábados de manhã acontece a feirinha de produtos orgânicos na praça da Federal




A “Feira Permacultural” acontece todo sábado, na praça Dr. Humberto Sanches, com uma média de sete expositores de diferentes cidades da região, entre eles Virgínia, Carmo de Minas, São Lourenço, Soledade e Pedralva e conta com a presença de um público fiel e constante.
Além dos expositores com produtos orgânicos, verduras, legumes, frutas, pães, mel, há também música ao vivo para animar a manhã. A feira tornou-se referência de local, com produtos de qualidade e também num ótimo lugar para confraternização.
Para Helio Brasil, criador da feira e um dos fundadores da Associação Permacultural Montanhas da Mantiqueira (APOMM), um dos objetivos da feira petende é promover a saúde: a alimentação sem "veneno” e os diferentes tipos de alimentação, vegetariana, vegana e macrobiótica. Helio garante ainda que os médicos formam grande parte do público, pois são conhecedores da necessidade da qualidade do alimento e do perigo da transgenia e agrotóxicos.
Paulo Siqueira, atual presidente da APOMM, é produtor orgânico desde 1997, em Pedralva, e segundo ele há cerca de 2 mil produtores em seu município, dos quais apenas 3 são orgânicos.
“Os outros produtores rurais nos veem como ambientalistas e defendem o agrotóxico. Mudam o nome do veneno, colocam em diminutivo, chamam de remédio. Há uma inversão de valores. É cultural mesmo”, esclarece. Para ele, a maior dificuldade sentida é a produção propriamente dita e a comercialização dos produtos. Mas garante não ser impossível.
Helio Brasil ressalta também a inexperiência em grupo e o individualismo como obstáculos, assim como o preço dos alimentos, que geralmente assusta o consumidor.
“Para dar um exemplo, um pé de tomate no convencional, usando adubo, venenos, hormônios, chega a produzir 12 a 14 kg por pé. No meu, quando produzo 1 kg por pé eu solto foguetes de alegria”, esclarece o presidente da APOMM. “Eles não colocam o preço na qualidade de vida”, enfatiza Helio.
Políticas públicas vêm sendo realizadas para tentar inverter esse quadro na alimentação das escolas. A Lei nº 11.947, de 2009, determina que no mínimo 30% do valor repassado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) devem ser utilizados na compra de gêneros alimentícios provenientes da agricultura familiar, dando prioridade aos produtos orgânicos.
Apesar das políticas favoráveis, há ainda entraves sociais e culturais, onde o próprio gestor que realiza o pedido para a compra dos alimentos não reconhece a importância de uma alimentação orgânica nem os perigos dos transgênicos e agrotóxicos. “É muito conveniente para as pessoas acharem que estão comendo saudável, só porque estão comendo verdura”, explica Paulo. Há todo um trabalho de conscientização a ser feito, de mudança de valores e nas práticas diárias. “Eu acho que temos que fazer a nossa parte: mostrar que a agricultura orgânica é possível, que ela dá lucro, que ela preserva solo e que ela te dá qualidade de vida”, afirma o produtor.

OPAC Sul de Minas

Através da união dos esforços e do trabalho de grupo, os produtores orgânicos da região conseguiram criar o OPAC Sul de Minas, o primeiro de Minas Gerais. O OPAC é o Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade, que corresponde às certificadoras no Sistema de Certificação por Auditoria. É através do OPAC que é avaliado, verificado e atestado se os produtos atendem às exigências do regulamento da produção orgânica, o que proporciona autonomia aos produtores. Os grupos de agricultores se reúnem, e por meio do controle social e de responsabilidade solidária, um garante a qualidade orgânica do outro perante a sociedade.

Sobre a APOMM

A Associação Permacultural Montanhas da Mantiqueira (APOMM) foi criada em 2005 com o objetivo de estabelecer a integração socioeconômica solidária e de trabalhar para o desenvolvimento e prática da agricultura orgânica.
Além da feira semanal, a APOMM está realizando o projeto de alfabetização ecológica, como uma alternativa para a educação e para a problemática do êxodo rural. Para o presidente da APOMM, a questão do êxodo rural se resolverá quando houver a valorização do homem do campo, mudando a visão estereotipada de que ele é um “coitado”, quando na verdade sem ele não há alimento. “A produção de alimento é a coisa mais essencial do ser humano, juntamente com a água, e que estão na mão do produtor rural. Se não conseguirmos fazer com que essas crianças enxerguem a importância disso nós teremos sérios problemas de abastecimento daqui alguns anos. Nossos netos e bisnetos terão que comer comida de laboratório, ração, pílulas”, esclarece Paulo.

Outro projeto da entidade é a campanha de conscientização sobre o significado de transgenia e as suas consequências. Em parceria com a Associação Brasileira de Biodinâmica (ABD), a APOMM irá realizar em 2015 o 5º Encontro Nacional de Sementes Livres, em Pedralva. A ABD está também orientando os produtores orgânicos para a criação de um banco de sementes.

O que são os transgênicos?

Os transgênicos são organismos vivos modificados em laboratório, com a introdução de genes novos no código genético de uma espécie, também chamados de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados). A transgenia pode causar sérios problemas na biodiversidade do planeta, como a perda do patrimônio genético das plantas e sementes e o aumento no uso de agrotóxicos.
Além disso, as consequências na saúde do consumidor a longo prazo são imprevisíveis, devido à ausência de conhecimento e à complexidade referente à genética.
Outro ponto de questionamento no uso de OGMs é que os agricultores ficam dependentes das empresas que modificam geneticamente as sementes, uma vez que modificados os frutos não geram sementes férteis, obrigando o produtor a comprar novas sementes. Há um monopólio de empresas que vendem os produtos desta indústria, as sementes e os agro-tóxicos, entre elas a Monsanto, Pioneer, Syngenta, gerando uma crescente perda da soberania alimentar.
No Brasil, o uso de transgênicos foi aprovado em 2003 e desde então há cerca de 40 milhões de hectares cultivados, com um crescimento muito acelerado.
No início de 2014, um relatório do Serviço Internacional para Aquisição de Biotecnologia Agrícola (Isaaa, na sigla em inglês) divulgou que o Brasil, pelo quinto ano consecutivo, perdeu apenas para os Estados Unidos em área de cultivo de transgênicos, com cerca de 23% do total mundial. Ainda segundo o relatório, o Brasil é o que mais cresce em área para produção com transgênicos, com um aumento de 10% em 2013 - equivale a 3,7 milhões de hectares de áreas cultivadas com soja, milho e algodão transgênicos - representando proporcionalmente mais do que o triplo da média mundial de aumento (que foi de 3%).
Outros países da América do Sul são grandes produtores de transgênicos, entre eles: a Argentina, que foi o primeiro país latino-americano a adotar a tecnologia dos transgênicos, responsável por 15% dos cultivos do mundo, com 24,4 hectares de áreas cultivadas; o Paraguai tem 3,6 milhões de hectares com cultivo de soja transgênica, que, com a liberação dos OGMs, se tornou na base da economia.
Em 2011 foi aprovada uma lei no Peru que proíbe o uso de transgênicos no país por um período de 10 anos. Já na Costa Rica e no México há lutas locais contra os transgênicos, conseguindo alguns avanços na proibição de cultivo de transgênico em algumas regiões do México.
Na Europa há uma forte resistência à liberação dos OGMs e desde 1996 as organizações da sociedade civil européia realizam campanhas de alerta sobre o uso de transgênicos, com informações simples e acessíveis aos cidadãos, ações jurídicas, ações de alerta à imprensa, guia para consumidores, entre outros.

Thursday, November 20, 2014

Cultura de Rua para todos

Arena da Rima combina os elementos do hip hop e proporciona arte e cultura de rua para os jovens da cidade


A 6ª edição do Arena da Rima, organizado pelo Movimento Independente de Resistência e Arte (MIRA) e Ponta de Flecha Estúdio, apresentou os elementos do hip hop, em grande estilo e com bastante público: competição de skate, apresentação de B-boys, apresentação musical e duelo de MC’s.
O evento aconteceu na Praça Dr. Humberto Sanches, na noite de sábado, 15 de novembro, e participaram 16 mc’s, que disputaram as diferentes categorias de Duelo de Tema e Duelo de Fogo, vencendo nesta edição Maik Liu (São Paulo) no Duelo de Tema, e Cleo Costa (Três Corações) o Duelo de Fogo. Também participaram skatistas de diferentes cidades da região no Game of Skate Arena, no qual Beto Gallo, de Três Corações, foi o vencedor.
O evento contou ainda com a disputa pelo “Trono de Fogo”, onde os vencedores do Duelo de Fogo desta edição e da anterior duelam entre si. O vencedor da edição passada, Kaká (Rafael Freitas), de São Lourenço, tem apenas 14 anos e permaneceu vitorioso no trono. Kaká afirmou que participar do Arena é uma oportunidade para passar mensagem e informação para as pessoas através do rap, e participa do projeto desde a sua segunda edição. “Evento como este ajuda a crescer o movimento do hip hop e influencia muita gente que está aí no mundo fazendo coisa errada”, afirmou Kaká.
Para o educador e agitador cultural, João Junior, um dos organizadores do evento, o projeto Arena da Rima é importante para jovens que gostam do estilo, tornando-se uma vitrine para os seus talentos, e que depende do envolvimento e participação de todos para funcionar. “É um evento do povo para o povo e o objetivo é promover a cultura de rua, a cultura popular”, destaca João Junior. “No começo eram só os artistas aqui de São Lourenço, depois foi vindo de Passa Quatro, Itanhandu, Três Corações, Aiuruoca, São Paulo. Então, a cada edição a gente tem visto tanto o número de participantes como o número de público aumentar gradualmente”, conta o agitador cultural.
O evento teve início às 18:00h e se estendeu até pouco mais da meia-noite, promovendo um encontro de arte, música e esporte. Um público misto compareceu e participou das votações, que além de voto público tem também um júri especializado, convidados a cada edição.
Além das batalhas, o evento contou com a apresentação musical do Hilicituz Mc’s, de Itajubá e com a discotecagem do DJ Gustavo Souza, de São Paulo.
As batalhas de mc’s tiveram sua origem na década de 70, nos Estados Unidos e se popularizaram no Brasil na década de 80. Nas batalhas, cada uma com suas regras específicas, os mestres de cerimônia (MC’s) duelam entre si com rimas improvisadas em cima de uma base colocada pra rodar na hora pelo DJ. O público e o júri vão escolhendo os melhores, pelo conteúdo das rimas, carisma e ritmo. As rimas devem ter conteúdo, ideologia, humor e sarcasmo, e principalmente envolver o público, que acaba entrando na disputa, torcendo por quem está rimando melhor. A rapidez de raciocínio, a criatividade e a capacidade de empolgar a platéia são essenciais para o competidor se tornar um dos vencedores das batalhas de mc’s.

João Junior garante que continuará realizando o evento, porque é um incentivo à cultura que, segundo ele, falta muito em São Lourenço, e também porque é um espaço para anônimos revelarem seus talentos e por possibilitar agregar outras vertentes da arte.

Thursday, November 6, 2014

Arte e alegria na semana do Artes Cênicas

O teatro é a poesia que sai do livro e se faz humana” – Frederico Garcia Lorca

Por Deborah Penna


O teatro é fundamental na formação cultural, transmite conhecimento e desperta emoções. É uma manifestação de arte que acompanha a humanidade desde o homem primitivo, com suas danças e rituais associados à caça, colheita e práticas lúdicas, passando por Platão, que usou também o teatro com caráter educacional e chega ao Brasil com os jesuítas e a catequização dos índios.
A palavra “teatro” deriva dos verbos gregos “ver, enxergar”, ver o mundo, se ver no mundo, se perceber, perceber o outro e a sua relação com o outro. 
O teatro, inserido na pedagogia, é essencial para a criança aprender valores, compreender o comportamento social e moral e se relacionar com os outros. 
O Artes Cênicas, na sua décima edição, trouxe ao público peças de 10 escolas que participaram do evento. As crianças, maravilhadas pelo mundo do faz-de-conta, deslumbraram e foram deslumbrantes.
O festival contou com a apresentação dos alunos da Escola Esperança – APAE, que abriram as apresentações do segundo dia do evento, na terça feira, 27 de outubro. Eles apresentaram a peça “As Águas de Lourenço”, encantando todos os presentes. Apresentaram-se também os alunos da Escola Municipal Manoel Monteiro, Ida Mascarenhas Lage e Ismael Junqueira de Souza; os alunos do Cemei Profa. Noêmia Goulart Ferreira e do COC Gênesis de Educação e Cultura.
O evento foi realizado pela Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura e Diretoria de Cultura, na semana de 27 a 31 de outubro, no auditório da Sociedade Brasileira de Eubiose, em São Lourenço.


Alunos do CEMEI Carolina abrem Festival de Artes Cênicas - Instituição foi a única representante da educação infantil de 0 a 3 anos a fazer apresentação

O CEMEI Carolina Forastiere Junqueira – Mãe Grande foi a primeira escola a se apresentar no X Festival de Artes Cênicas, abrindo o certame no dia 27 de outubro.
A apresentação aconteceu às 18:00h no auditório da Eubiose e contou com casa cheia, com um público misto, tanto de familiares, amigos e convidados, como autoridades públicas e curiosos.
A diretora da escola, Alcione de Almeida Carvalho, conversou com o Correio do Papagaio e falou sobre o desafio de participar em um festival de teatro com crianças tão pequenas e sobre as propostas educativas da creche, que tem a valorização da cultura e da arte como um de seus objetivos pedagógicos.
A peça é um texto original intitulado “E o Medo Acabou!”, escrito por Rosilda de Fátima dos Santos Rodrigues, educadora da instituição e contadora de histórias e representa a culminância de todo o trabalho desenvolvido durante o ano.
“Nós percebemos após a sondagem que fazemos no início do ano que eles tinham muito medo: medo do escuro, medo de bicho papão, medo de bruxa, medo de lobo”, explica a diretora. “Então decidimos trabalhar em cima disso. Trabalhando a questão do bem, do amor ao próximo e fomos por meio dos contos de fadas, apresentando as figuras que representavam o medo, ora com fantoches, ora com contação de historia ou com pequenas dramatizações”, continua.
No meio do ano a equipe de trabalho decidiu em conjunto participar do Festival de Artes Cênicas, sendo a única escola a participar do certame com crianças de 0 a 3 anos. Apresentaram a peça de autoria própria “E o Medo Acabou!”, que narra a trajetória de uma criança que ganha coragem para vencer seus medos através da leitura e do amor e aprende a importância de estar perto das pessoas que a amam.
A escola montou todo o cenário, a grande maioria com materiais reutilizados, e contou com o diferencial da participação tanto dos educadores como dos alunos no palco. “Porque essa é a marca da instituição: educar pelo exemplo”, explica a psicopedagoga.
A peça foi apresentada em dois atos e as crianças e educadores deram um verdadeiro show de teatro. Para Alcione o olhar nos pais das crianças foi muito gratificante. “Isso é a proposta da Carolina, é despertar esse brilho que às vezes se perde”, esclarece.

“Coisas de Carolina”
A escola iniciou suas atividades letivas em 4 de fevereiro de 2013, após ser municipalizada. Alcione de Almeida Carvalho foi convidada a trabalhar na direção da escola e desde então trabalha com a intenção de cuidar e de semear amor.
“O ano de 2013, principalmente o primeiro semestre, foi o momento de mostrarmos o que era o Carolina, qual o trabalho que gostaríamos de fazer, o que era a nossa intenção real aqui dentro. E era um desafio ganhar a parceria das família, que é fundamental para o papel da escola”, relembra a diretora.
O projeto de trabalho de 2013 foi todo voltado para a cultura e o de 2014 teve como tema “Brasil, meu Brasil brasileiro” onde foi trabalhada bastante a arte de Romero Brito, reforçando a importância da arte e cultura no projeto pedagógico da escola.
A proposta do CEMEI Carolina é diferente e isso reflete nas próprias festas oficiais da escola.
“Não fizemos festa do dia das mães. Fizemos a 'Festa da Família', pois a nossa intenção era homenagear quem está perto da criança e cuida com amor e carinho dela, que é o mais importante; independente de quem seja. Então fizemos homenagem aos pais, avós, tias e amigos”, explica Alcione. Na ‘Festa da Família’ a lembrancinha que os alunos levaram foi uma semente, para toda a família cultivar e cuidar da planta.
“São pequenas sementes que a gente vai jogando que eu gosto muito de chamar de ‘coisas de Carolina”, explica.
Desde 2013, a instituição começou o trabalho com o resgate da música infantil, apresentações culturais e resgate folclórico das canções, através da Palavra Cantada, Bia Bedran, Chico e Vinicius para crianças; ferramentas que valorizam a cultura e agregam valores essenciais à formação humana.
“Porque a música desperta as emoções”, explica Alcione. “A intenção do Carolina é essa: semear, cuidar. Porque gentileza gera gentileza... propiciar vivências humanas, culturais, brincadeiras, brinquedos, jogos, brinquedos cantados, encenações.”, acrescenta a diretora.
A instituição se orgulha de ter sido o único CEMEI a enviar representação à Bienal do Livro nos anos de 2013 e 2014, proporcionando um aumento no seu acervo de livros, todos escolhidos com cuidado e direcionado ao trabalho da escola. “Adquirimos muitos títulos que abrangem um trabalho em todas as áreas, tanto contos, como histórias que podem trabalhar as vivências diárias que têm dentro de casa, como o medo, como a separação, como a alimentação; e também títulos que trabalham as questões que aparecem no dia-a-dia escolar, como a briga pelo brinquedo, ou a briga pela vez ao balanço”, esclarece a diretora.
Para os alunos do maternal a escola faz empréstimo dos livros, para estimular também a leitura em casa.
O trabalho pedagógico cultural tem sido o foco da equipe de trabalho, que, segundo a diretora, é motivada e participativa. Há um trabalho continuado com toda a equipe, que já participou de formação base de primeiro socorros com o Corpo de Bombeiros, formação com fonodióloga, com psicóloga e todo o mês se dedica a aprender mais para melhor cuidar.
“Os detalhes não podem apagar aquilo que é o mais importante que a gente tem, que é a semeadura, que é despertar o outro para o bonito, para o bom, para o belo, para a partilha. Porque o mundo está tão distante disso, o carinho e a gentileza estão perdendo tanto espaço”, ressalta a psicopedagoga. “Vamos mostrar para eles que existem outras propostas, outras músicas, outros filmes, outros vídeos, outras formas de tratar as pessoas”.
E é pelo exemplo que se mudam os conceitos e se apresentam novas formas de estar na vida. A diretora enfatiza a importância desse cuidado, desde quem está preparando e serve o alimento até às educadoras que passam todo o dia com as crianças. “Tudo o que acontece dentro do ambiente escolar é educativo, tudo é formador. A forma como eu sirvo o prato para uma criança, pode ser com um sorriso, com uma delicadeza e pode não ser. E isso vai fazer diferença no comportamento da criança”, esclarece ela.
Após estes dois anos de trabalho e realizações o CEMEI conseguiu conquistar a parceria das famílias e a procura por vagas na instituição tem crescido bastante.
Hoje em dia, o CEMEI Carolina Forastiere Junqueira – Mãe Grande recebe 126 alunos, distribuídos em 9 turmas, do berçário até ao maternal e é a primeira equipe municipal a atuar na instituição, localizada na rua Coronel Justino, no centro da cidade.


Projeto Crer-Ser apresenta adaptação ousada de Os Saltimbancos - No dia 30 de outubro o auditório da Eubiose literalmente “transbordou” com a apresentação do Projeto Crer-Ser

A peça movimentou cerca de 70 pessoas do Projeto trabalhando em conjunto para a realização desse grande momento. A apresentação no Festival de Artes Cênicas foi uma adaptação do musical Os Saltimbancos e lotou o auditório da Eubiose, com 500 pessoas, sendo que a capacidade do espaço é de 300.
O público vibrou com a apresentação, aplaudindo de pé os atores ao final da peça. Além da genialidade do texto e da interpretação majestosa dos atores, a apresentação contou também com todas as músicas executadas ao vivo e com a inserção das oficinas do Projeto adaptadas à história da peça.
O trabalho para concretizar Os Saltimbancos foi longo e o jornal Correio do Papagaio conversou com a diretora-geral da peça, atriz e professora Morena Lua Gurgulino para conhecer melhor todo o trabalho por detrás da cena.
“Foi um processo muito grande, muitos meses de ensaio. São muitas crianças e muitas oficinas. Foi uma noite especial, não só para o Projeto Crer-Ser, mas eu acho que para a cidade de São Lourenço”, disse.
Os Saltimbancos é um musical inspirado no conto “Os músicos de Bremen”, dos Irmãos Grimm, que foi adaptado pelo letrista italiano Sergio Bardotti e depois traduzido e adaptado por Chico Buarque, em 1977. Apesar de ser um musical infantil é também uma alegoria política com várias mensagens e apelos sociais e de justiça, duplos sentidos e críticas veladas, que numa época de ditadura militar usou os animais como figuras porta-vozes contra o regime. Mesmo tendo sido adaptada por Chico Buarque aqui no Brasil num tempo de repressão, para a diretora-geral, Morena, o seu conteúdo é ainda atual.
“A função da arte é política. E isso é uma coisa que eu aprendi e levo para a vida”, esclarece. “Para cada palavra política que o texto fala, nós temos uma sonoplastia específica. Cada mensagem de classe, de política. Isso foi conversado com os meus alunos e isso foi colocado para eles. E eles entenderam o quanto isso era relevante dentro dessa montagem. O trabalho de mesa, o trabalho de pesquisa feito atrás da coxia, foi importante e transformador”, explica.
O musical conta a história de quatro animais, o jumento, a galinha, a gata e o cachorro, que decidem fugir de suas casas por serem maltratados por seus donos e partir em busca da liberdade na cidade. A professora de teatro explica o porquê da escolha dessa peça para a apresentação no Artes Cênicas.
“É uma peça que faz parte do inconsciente da minha geração. Além de ser um musical ela é uma peça política. Além disso, ela tem uma mensagem que é a mensagem do Crer-Ser, que é essa questão de ‘todos juntos, somos fortes’. O Crer-Ser tem essa base de trabalho que é a família. Eu escolhi essa peça exatamente por essa questão da união e porque, claro, é uma peça que daria para comportar todas as oficinas, pois é importantíssimo que todo mundo participe dessa montagem”, esclarece.
O diferencial dessa apresentação é que as oficinas do projeto se transformaram em cenas do musical, que ajudaram na própria narrativa. “Nós fizemos uma semana de imersão, onde todos os alunos fizeram aulas de todas as oficinas. Isso fez com que o aluno de dança que vai num dia, que não conhece o pessoal do teatro, se encontrasse com o colega, unindo ainda mais esses laços de família. E principalmente entendendo que a capoeira na peça não é só a capoeira, é uma cena da peça, assim como as outras oficinas”, explica a diretora.
A transformação do musical em uma apresentação complexa e completa do Projeto Crer-Ser foi longa e trabalhosa, exigindo a entrega e união de todos, professores e alunos durante 5 meses. E o resultado foi uma apresentação profissional, que proporcionou uma noite de beleza e encanto para todos que foram assistir à peça no X Festival de Artes Cênicas.
“Para mim é a resposta mais preciosa que um educador pode querer receber: nós transformamos essas crianças. E essas crianças vão transformar outras em jovens protagonistas das suas vidas”, enfatiza Morena. Ela acrescenta ainda que já houve o convite para se apresentarem na Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Pouso Alegre, e há a vontade de colocar a peça em uma temporada. “Eu acho de extrema importância que a gente fique em cartaz em São Lourenço. A cidade tem espetáculos teatrais às vezes, mas que vêm e se apresentam um dia e vão embora. Nós queremos ficar em cartaz sexta, sábado e domingo, uma apresentação por dia, ou sábado e domingo que seja, para que o sãolourenciano crie o costume de falar ‘Hoje é sábado! Vamos ao teatro?’ Porque não?”, sugere Morena Lua.
Para a atriz e professora, São Lourenço é “um celeiro de artistas” que deve e merece valorizar mais as artes. “Se todos juntos somos forte, a peça faz um apelo a todos os artistas da cidade a se unir e transformar a concepção de arte de São Lourenço”, conclui. 



Thursday, October 30, 2014

Transformando São Lourenço em uma cidade sustentável

Ong Terra das Águas está com nova cara, novas propostas, visões e valores e apresenta o movimento “Todos por São Lourenço”

por Deborah Penna

O movimento “Todos por São Lourenço” tem o ambicioso projeto de transformar o município em uma cidade sustentável. Para isso a nova diretoria reativou a ONG e trouxe novos conceitos e objetivos, adaptando-se aos novos tempos.
O jornal Correio do Papagaio conversou com Glaucia Esqueda, componente do conselho fiscal, facilitadora e gestora de projetos da ONG, para entender melhor esse novo momento. Ela falou de projetos concretos, ideais e novas formas de ver e estar no mundo, que sai do assistencialismo e passa pelo empoderamento do cidadão.
A nova visão do movimento Todos por São Lourenço é fazer do município uma cidade que respeite e preserve o meio ambiente, para que seja reconhecida como referência regional, nacional e internacional, assente em valores de apartidarismo, eficiência, equidade, fraternidade, igualdade, interdisciplinaridade, respeito ao cidadão, respeito à vida e à diversidade, transparência e universalidade.
“Todas as nossas ações são com foco na pessoa, no ser humano, no meio ambiente e no planeta; no respeito aos animais, com respeito à flora, aos rios,  à qualidade da água”, esclareceu Glaucia.
Muitas pessoas quando ouvem falar de OSCIP Terra das Águas associa a entidade ao atual prefeito José Neto, que foi o fundador da ONG em 1999. Hoje em dia o prefeito é um parceiro como cidadão e não faz mais parte da diretoria. “Mudamos o nome do movimento exatamente para mostrar que é outra história. E a tônica dessa nova diretoria é o apartidarismo, porque nós queremos atuar e nós atuaremos independentemente de quem estiver no poder”, explicou ela. “É claro que vamos fazer parcerias. Não tem como falar em trabalhar com a população sem termos parceria com a prefeitura, com os vereadores, com o poder judiciário. A gente vai trabalhar junto, mas não é ‘misturado”, conclui.

Os projetos
O movimento tem vários projetos que devem ser desenvolvidos a curto, médio e longo prazos para atingir a meta da sustentabilidade. O projeto mais abrangente e de prazo mais longo é o da coleta seletiva. O grupo se propõe, como primeiro passo, revitalizar a cooperativa de catadores, pois eles são a base para o projeto de coleta seletiva. Após estruturar a cooperativa e reunir todos os catadores será iniciada a articulação e captação de recursos.
A ONG está fechando uma importante parceria com o SAAE (Sistema Autônomo de Água e Esgoto), que hoje é a entidade responsável por toda a política de resíduos sólidos, que além de parceiros financeiros poderão dar também suporte técnico. Segundo Esqueda, essa questão já está bem adiantada e ainda este ano a ONG pretende começar a concretizar etapas desse projeto.

“A nossa meta é ficar parecida com Itaúna, cidade do norte de Minas, onde os catadores têm uma renda média de 3 mil e 200 reais por mês só com a coleta seletiva”, explica.
Paralelamente ao projeto de coleta seletiva estão outros que caminham lado a lado para a viabilização da sustentabilidade que a ONG procura trazer para São Lourenço. Um deles é o de humanização no atendimento ao cidadão, promovendo cursos no setor público e privado e o de educação hidroambiental nas escolas, residências, indústria e comércio, conscientizando a população a, gradativamente, mudar suas atitudes.
Outro projeto é o da auto-sustentabilidade das organizações do terceiro setor da cidade, sendo ele as associações de moradores de bairros e as entidades que trabalham com idosos e crianças. São entidades que já atuam na área social, mas que estão sem profissionalização. “As organizações do terceiro setor fazem um trabalho maravilhoso, super eficiente, fazem milagre com os poucos recursos que têm. Nossa ideia é profissionalizar essas pessoas, dar suporte, ensinar a fazer projetos e colocar nossos especialistas à disposição”, explica Glaucia.
Primeiros passos
Tudo começa com o envolvimento das pessoas e com o despertar da consciência de cada um. “A ideia é que a gente se agrupe e não espere que as coisas aconteçam por algum fator externo”, esclarece ela.
O movimento já está com vários parceiros para começar a sua atuação: contadores, advogados, terapeutas, parceiros na Faculdade São Lourenço, parcerias com o SAAE e buscando a união para a concretização.
 “Vamos sair do assistencialismo que é próprio da ditadura. Só o ditador quer ficar dando o peixe. O democrata quer ensinar a pescar, e nossa ideia é essa. A gente acredita que todo mundo tem dentro de si a solução de seus problemas. E a solução vai ser feita em conjunto”, enfatiza Glaucia.
O empoderamento do cidadão passa pela compreensão de que ele é responsável por tudo o que acontece na sua casa, no seu bairro e na sua cidade.

Cidades em transição
O conceito de “cidades em transição” apareceu em 2004, apresentado pelo permacultor inglês Rob Hopkins, com o objetivo de transformar as cidades em modelos sustentáveis, menos dependentes do petróleo, mais integradas à natureza e mais resistentes a crises externas, tanto econômicas como ecológicas. “A ideia de transição é estarmos todos envolvidos, sendo partes ativas dessa mudança; é as pessoas estarem mais conscientes em relação ao mundo em que vivem, pensando na forma como eles realmente querem viver e realizando a mudança de baixo para cima”. Esta é a definição do primeiro projeto de cidade em transição do mundo, criado na Inglaterra.
O conceito é atual e extremamente importante nos dias de hoje, quando estamos prestes a  esgotar os recursos naturais do Planeta e onde a violência atinge os mais altos níveis.
Hoje o movimento se espalhou pelo mundo todo, e São Lourenço está sendo pioneira em Minas Gerais ao dar início a um trabalho em direção à sustentabilidade e humanização dos serviços.
A ONG Todos por São Lourenço está trazendo conceitos novos e diferentes num momento de grandes mudanças planetárias. O jornal Correio do Papagaio estará acompanhando o trabalho realizado pela ONG.

Thursday, October 9, 2014

Crer- Ser: educação e arte em ação

Projeto é exemplo de ação social e cultural, abrindo portas para as crianças e adolescentes de São Lourenço, Minas Gerais

por Deborah Penna


O projeto Crer-Ser atua em São Lourenço há 10 anos. Fundando em 2004, nasceu da necessidade de dar uma nova oportunidade para os adolescentes da cidade, uma iniciativa particular de Carmélia Regina da Silva, apoiada pela Secretaria de Desenvolvimento Social de São Lourenço.
Atualmente o projeto trabalha com 280 adolescentes dos 10 aos 21 anos, de todas as classes sociais.
O Correio do Papagaio foi conhecer mais de perto esse projeto que deu certo. Que dá certo.
Muito além de um projeto social, o Projeto Crer-Ser é uma porta de entrada para um mundo de cores e de exploração dos sentidos que é o mundo da arte que, de outro modo, muitos adolescentes não conseguiriam entrar
Para Ana Lúcia Pilz Borba, coordenadora do projeto, o Crer-Ser é o que o mundo deveria ter e ser. “É um lugar onde valorizamos os alunos e também onde trabalhamos várias questões culturais. É muito mais do que a própria aula, existe todo um contexto de valores humanos”, afirma.
E muitas vezes a arte é utilizada como ferramenta para ultrapassar as dificuldades.  “Temos muitas crianças encaminhadas, que estão em situação de risco, que passaram por problemas do conselho tutelar, etc, e eles encaminham o adolescente para o projeto como terapia mesmo”, conta Lívia Maria de Freitas, professora de tecelagem que trabalha no projeto desde a sua fundação.
A criança não é problemática mas sim o ambiente em que se encontra. Tanto que em 10 anos de atuação o projeto nunca teve casos de problemas com essas crianças-risco que foram encaminhadas. “A grande maioria vê isso aqui como a sua segunda ou até primeira casa”, explica o instrutor de capoeira, Jibóia Mineiro, que também está no projeto desde a sua fundação.
O adolescente experiencia através da arte um fortalecimento de caráter e acrescenta oportunidades ao seu mundo. “A oportunidade de você lidar com a arte, com a cultura, com o folclore, eu acho que é um instrumento de formação.”, afirma a professora de tecelagem.
Cainã Chiarini, aluno do projeto há 8 anos, diz sentir-se parte de uma família. “Além de me ensinar vários ofícios, como a música e o teatro, como pessoa mesmo eu aprendi muito, aprendi a me soltar mais, a pertencer a um grupo. O projeto me mudou bastante”, afirma.
 “Temos vários exemplos de crianças que hoje em dia viraram professores aqui no projeto. E temos outras crianças que saem daqui e se profissionalizam lá fora. Alunos que começaram aqui a aprender música e agora estão na faculdade de música, ou de pedagogia. É muito gratificante acompanhar essa evolução”, acrescenta Lívia Maria de Freitas.
O projeto Crer-Ser oferece gratuitamente 17 oficinas: capoeira, circo, desenho, pintura, teatro, tecelagem, ballet, jazz, dança de rua, canto, coral e música (violão, violino, violoncelo, viola de arco, cavaquinho, bandolim, flauta doce e flauta transversal, percussão).
Além de ser o portal de acesso para um novo mundo, repleto de arte, música e movimento, o Projeto Crer-Ser serve também como uma plataforma de integração. Crianças de diferentes bairros e até mesmo cidades se encontram num mesmo espaço para compartilhar das mesmas oficinas e sonhos, estimulando a convivência e a aceitação de pessoas diferentes, de diferentes idades e classes.
“É interessante que hoje em dia em todas as escolas existe o tal do bullying. Aqui não rola nada disso, é um magnetismo do bem maravilhoso. Trabalhamos muito essa historia da aceitação, do trabalho de grupo.”, ressalta Jibóia.
Para participar qualquer adolescente pode chegar na sede do projeto (situada na rua Ida Mascarenhas Lage, nº 497, no bairro Nossa Senhora de Fátima), acompanhado pelos pais, mas terá que se adequar às vagas. Há uma procura grande por determinadas oficinas, mas caso não haja vaga o aluno é colocado em lista de espera e é sugerida a participação em outra oficina. “Às vezes aquele aluno que veio para o violão ele entra numa outra oficina para esperar o violão e se encontra nela. Acontece muito isso. Ou às vezes ele continua ali e quando chegar na hora do violão ele faz as duas coisas. E tem aluno que chega e quer entrar em qualquer coisa, quer fazer parte do projeto”, explica Lívia.
Apesar de ter dado certo, dar certo e ser um exemplo de ação social e cultural na cidade e até na região, o Projeto Crer-Ser ainda tem muitos sonhos.
 “Temos o sonho da sede própria, até porque não estamos mais cabendo aqui. Fazemos mapas para caber as aulas de música dentro das salas de música. E sonhamos também com um teatro. Quando temos as apresentações aqui o projeto lota, e não cabe todo mundo. E a cidade não tem um teatro. Agora vamos fazer a apresentação na Eubiose, que está cedendo o espaço para o Festival de Artes Cênicas. Mas essa peça que estamos montando tem a participação de cerca de 80 crianças, todas as oficinas estão inseridas na peça, tem street dance, tem capoeira, a música vai ser tocada ao vivo, enfim precisaria de um palco, de um teatro.”, sonha Lívia.
Ana, a coordenadora do projeto, acrescenta que seria importante mais independência financeira, mais apoios e investimentos. “Sonho fazer com que o projeto seja mais reconhecido e que seja uma referência de educação e cultura no país”, diz.
 “Hoje em dia sinto que o projeto já é mais independente. Em relação à própria energia dele; é como um ser humano, ele procura ficar do lado das pessoas que se identificam com ele”, explica o instrutor de capoeira. “Estamos aqui há 10 anos, mas se hoje nós sairmos, o projeto já caminha sozinho.”, conclui.
As conquistas do Projeto Crer-Ser são um exemplo de cuidado com o próximo, com a criança e com o adolescente através da arte, do trabalho de grupo, da alegria e do amor. 

Sunday, September 21, 2014

Silêncio. Silencioso. Silêncio.

Silêncio. Silencioso. Silêncio.
Quietude. Calma.
Olhar para dentro.
Respirar fundo e guardar os pensamentos nas gavetas dos armários da mente.
Salas escuras e empoeiradas.
Escadas de gavetas entulham os espaços.
Corredores subdividem-se em sub-corredores.
Labirintos de lembranças mentais e sensoriais.
Memórias e mais memórias obstruem as passagens, transformando as ruas sem saída.
Os espaços são escuros e com teias de aranha.
Velhos e com cheiro de mofo.


Ao fundo, bem lá no fundo, há uma pequena luz.
Parece uma pequena faísca, trémula e instável.

Os corredores se multiplicam ao passar por eles, parecem não ter fim.

Aos poucos a pequena luz vai ficando mais forte.
Mais segura.
Um calor, um aconchego, uma sensação de abraço.
A luz expande e, como uma rajada de vento abrindo a janela fechada, ela entra e ilumina tudo.
O ar fica mais limpo, mais fresco.
O vento, que antes parecia uma brisa, agora parece mais um tornado.

Coisas voam, gavetas rodopiam.
Livros são folheados em segundos e páginas se destacam.
Frases entram em colapso espiralítico.
Palavras se separam das letras.
E sensações das palavras.

O ego se apega. Se agarra. Grita, chora, coça, ameaça.

A luz agora já rompeu todas as barreiras da matéria.
A alma finalmente sorri e se liberta.
Múltiplas cores e formas geométricas.
Tempo e espaço não existem mais.

Silêncio. Silencioso silêncio.
Faxina mental.
Leveza de Ser.

O ar está mais puro. O sorriso mais fácil. O olhar mais sincero.

Ah.. . . como é bom o silêncio!!


"In silence and waiting something of you goes on growing - your authentic being"


Sunday, September 7, 2014

Campo de refugiados tibetanos - dia 7

Hoje foi um dia intenso e estranho! Acordei cedo, como sempre. com a mãe de Dolkar cantarolando (agora sei que não é música, mas sim oração! ehehe), comi o café da manhã e me preparei para ir à Jonson ver se a autorização para eu ficar aqui saiu.
Uma hora a pé tentando meditar na beleza deste lugar e refletindo sobre a minha paciência e tolerância para com os outros.
Decidi ir direta ao office antes de fazer qualquer outra coisa. À caminho me pararam num police check point. "Namastê. Show me your permit". ("Olá, me mostre a sua permissão" - estou a 4 mil metros de altitude dentro do Anapurna Circuit, um circuito famoso de trekking para o qual os turistas precisam dessa suposta permissão, no valor de 4 mil rupias nepalesas, mas como eu não fui fazer o trekking e não subi com guias e agências turísticas, e sim com ônibus de nativos, pelo caminho dos nativos, em nenhum momento precisei desse documento).
Bom, respirei fundo e tentei explicar que estava indo ao posto do Governo para receber a resposta sobre uma autorização de ficar no campo de refugiados tibetanos. Expliquei que não estava ali para o trekking e sim para uma resposta do governo nepalês.
Mesmo assim, sem chance. A grosseria e a rispidez do policial, que não fez nenhum esforço para compreender que estava com outras intenções começou a me abalar e a me intimidar até. A tristeza e o desespero começaram a invadir o meu coração. Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, sem a minha autorização. 
Saí da polícia, voltando para trás tentando não deixar que a raiva entrasse no meu coração, mas com uma enorme sensação de frustração.
Decidi tomar um café para colocar as ideias no lugar. Afinal não podia voltar ao campo sem a resposta do governo nepalês, mas sem o tal papel não conseguiria passar do check point da polícia. Fui para um cafézinho pequenino e bem simples e sentei com um café numa das mesas.
Pouco tempo depois de estar ali sentada veio um tibetano, que à princípio pensei que fosse nepalês, conversar comigo. "Você está bem? Porquê chorou?". Eu devia estar o rosto ainda vermelho de raiva e das lágrimas de frustração. Contei-lhe então o porquê, explicando que precisava chegar no escritório do governo nepalês para receber essa resposta para poder continuar no campo de refugiados. Abri meu coração a ele, nem sei bem porquê. E, emotiva como sou, no meio de tudo o que eu falava, as lágrimas desciam, novamente sem serem convidadas.
No fim da nossa conversa já uns 3 ou 4 nativos participavam, dando palpites e opiniões. Por fim, disseram que me levariam até ao check point onde intercederiam por mim. Então lá fomos nós, eu, escoltada por mais quatros homens pequeninos e bondosos. Chegamos no check point e eles falaram com o policial que com cara feia me deixou passar.
Consegui chegar no tal do office. Meu coração estava acelerado, mas estava feliz por ter conseguido chegar até ali. 
A sala era grande, bem grande e tinha só uma secretária bem no meio. Atrás dela um homem bem pequeno, quase só dava para ver os seus olhinhos. Uns dois guardas ficavam em pé do lado da secretária em postura de sentinela. 
Me aproximei e falei que tinha pedido autorização para ficar no campo de refugiados, onde trabalharia com as crianças durante um mês. Falei o quanto admirava aquele povo e que sentia que poderia contribuir bastante com a minha presença ali. E que estava ali para saber da resposta do governo nepalês.
O homem fez um baralho estranho que parecia ser uma risada irônica, não tenho bem a certeza, e disse: "O que você, uma turista branca, acha que pode fazer por um povo atrasado como eles? Pra começar você teria que pagar o documento de permissão do circuito. Depois teria que pagar uma propina boa para mim", e fez aquele barulho irritante de novo.
Comecei a pensar em quanto ficaria aquela brincadeira, mas estava até disposta a pagar, pois sabia que uma experiência assim não tem preço.
Mas aí ele continuou: "Mas mesmo que a propina fosse boa, não posso te deixar ficar. Hoje em dia são as ONGs que fazem o voluntariado e mandam os turistas pra cá. E a propina que eles me pagam é muuuuuuuito boa. Por isso, desça até Pokhara e compre o seu «passaporte» na ONG para fazer voluntariado. E não se esqueça de trazer a minha propina extra." . Sinistro.
A raiva invadiu de novo a minha alma. Passaram pela minha cabeça milhões de coisas inteligentes e insultivas para lhe dizer. Respirei fundo e guardei a minha raiva para mim mesma. 
Sai daquela sala nojenta com o coração pequenino. Peguei o caminho de volta para casa, com a cabeça baixa, quando o tibetano que conversou comigo antes parou na minha frente e me perguntou: "E ai? Conseguiu?", perguntou com um sorrisão no rosto. 
Olhei nos seus olhos e não consegui dizer nada. Apenas chorei, chorei muito.
Ele, tadinho, ficou sem saber o que fazer. Me levou ao mesmo cafézinho e pediu um copo de água. "Vai ficar tudo bem, não se preocupe. Toma." E me deu uma foto do Dalai Lama, que segundo ouvi dizer é o presente mais precioso que se pode oferecer à alguém, dentro da cultura tibetana. Fui me acalmando e senti uma gratidão tão grande por esse povo, essas pessoas tão lindas, que me ensinaram tanto. Agradeci a ele e disse que quando sai do escritório do governo meu coração estava pequenininho. E que agora, graças à ele, com seu carinho e sincera preocupação, ele estava um pouquinho maior.
Na caminhada de volta ao acampamento fui dissolvendo os sentimentos ruins e relembrando toda a beleza que senti nessas montanhas. 
Almocei com Dolkar e conversamos serenamente sobre a infelicidade de eu ter de partir. Sinto que a pouco e pouco nos tornamos boas amigas, apesar de culturas tão diferentes...
Depois fui à escola para me despedir das crianças e tirar fotos delas todas. Pedi aos professores que explicassem por mim que amanhã irei embora e porquê. A professora perguntou se eu queria dar a última aula do dia, com a mesma turma que eu tinha começado.
Ela entrou na sala e à medida que ia falando na língua estranha eu via a reação no rostinho de cada um e os meus olhos se encheram de lágrimas.
Ela saiu e mais uma vez tenho 26 olhinhos confusos a olhar para mim. Tento conter as lágrimas que não queriam parar de cair e eles espontaneamente começam a cantar a música que lhes ensinei. Tão lindos! 
Uma das meninas começou a chorar e 2 ou 3 seguiram o exemplo. Eu pedia por favor, não chorem, sorriem, estou tão feliz por vos ter conhecido, vocês são lindos e inteligentes.
Eles, claro, não entendiam metade do que eu dizia, mas o lindo Suresh entendeu que eu não queria que eles chorassem e começou a cantar ainda mais forte e a dançar.
Disse-lhes para virem para frente e cantar. Os dois primeiros foram Suresh e Tsomo, os meus preferidos dessa turma. Cantando a letra direitinho e na melodia certinha e ainda fazendo os passos da coreografia que eu ensinei no primeiro dia. Meu coração transbordou de alegria!
Foi duro, muito duro e para parar com a tristeza que parecia contagiante disse para irmos lá para fora brincar de pega-pega. Foi muito divertido!



(  . . . )


Não se pode prometer nada à uma criança, pois ela nunca esquece! Disse-lhes que à tarde, depois da escola, brincaria com elas, mas estava com muita dor de cabeça, de ter chorado tanto, e entretida escrevendo que nem lembrei da promessa. Não é que quando olho estou rodeada por seis crianças com um sorrisão gritando: "Play? Play?!". Tive que ir!!
Primeiro, brincamos de pega-pega dentro da escola, depois de escondidinha por todo o campo e por fim elas acabaram me mostrando os terrenos todos do campo, que é bem maior do que eu pensava!!
Em cada  árvore um deles subia que nem macaco, pegava uma fruta, ainda verde e me dava. Cada hora era um que me puxava e gritava o meu nome:  "Come! Come!". Num inglês fluente, como nunca ouvi nas minhas aulas, me levaram à cachoeira, à pedra gigante, ao tanque de água, ao mini templo onde me fizeram rezar.... Foi mágico!!
Quando dei por mim já era de noite, os pais brigando porque as crinças não fizeram o trabalho de casa e a minha dor de cabeça já não existia.
À caminho de casa, com Tsomo pendurada nas minhas costas, elas me fizeram parar na casa delas. Queriam que eu conhecesse os pais, tomasse chá tibetano com a mãe, mostrar fotografias...
Lindo, acolhedor, gratificante demais!   


No fim do dia meu coração não podia estar maior e cheio de alegria!! 
Em casa já, com Dolkar conversamos um pouquinho e a pouco e pouco, uma à uma, as crianças foram aparecendo por lá, umas trazendo bombons, outras 5 rupias (é tradição no Tibete dar dinheiro para quem parte para tomar um chá na caminhada...) e me dando a "khata" (um lenço branco que se coloca no pescoço quando alguém querido parte por um longo tempo). 
Não consegui evitar as lágrimas de alegria que não paravam de cair. A doce Dolkar também começou a chorar. E foi tão linda me dizendo como sentia que eu era como uma irmã para ela. Depois as crianças foram indo, uma à uma também embora felizes por terem me conhecido e eu ainda mais por ter recebido o carinho e o respeito delas.

Agora já escrevo de Pokhara, depois de um looooooooongo dia de viagem (são 10h da noite, saí do campo às 6h da manhã!! Ufa...!). Estou um pouco triste por não ter podido ficar mais tempo naquele lugar abençoado e muito nostálgica da vida que estava tendo. Mas sinto meu coração pleno de amor e a minha alma um pouco mais sábia com a sabedoria que aprendi com aquele povo.
Entendo agora, meditando neste quarto na cidade, o grande aprendizado desta jornada... Não foi para eu ajudar os outros, fazendo um trabalho voluntário, me sentindo útil em um lugar onde "precisam" de mim....... Mas a grande verdade é que eu sim, fui ajudada, abraçada e acarinhada por todas essas pessoas que me amaram do jeito que eu sou, e eles sim, me ensinaram e me acolheram... eles sim fizeram o verdadeiro trabalho humanitário e não o contrário. 
Grata, muito grata. Tashi delek!





21.05.09 - Tibetan Settlement (Marpha, Nepal)

Saturday, September 6, 2014

Campo de refugiados tibetanos - dia 6

Acabei de ler um livro incrível: "Ama Adhe, The Voice that Remembers". É a história contada na primeira pessoa de uma refugiada tibetana. Tudo o que passou, desde a livre infância nas montanhas férteis no Tibete de leste até a chegada dos primeiros soldados chineses, à consequente ocupação, emprisionamento e tortura.
Sinto meu estômago apertado e o meu coração pequenininho. Como é possível tanta maldade, desrespeito para com seres vivos e em nome de quê?? E como é possível hoje em dia ainda haver ocupação no Tibete e a China ainda ser reconhecida pelos outros países, sem pelo menos uma repreensão??? Cresce uma revolta dentro de mim a cada dia que leio mais sobre esse povo que tem tanto de maravilhoso como de sofrido... E também compaixão e sensação de impotência... Quero fazer alguma coisa por eles...
Sinto-me bem por estar aqui e sei que de algum modo estou contribuindo ainda que de forma muito pequena para esta comunidade.
Mas aqui são poucos os que vieram do Tibete, a maioria nasceu já aqui, onde vivem livres, numa comunidade harmoniosa onde a sua religião e tradições são respeitadas.
Não é fácil socialmente se desenvolverem porque não são considerados cidadãos no Nepal e não é fácil conseguirem trabalho fora dos campos de refugiados (sem falar do preconceito de muitos nepaleses para com eles e do exército que atira para matar na fronteira com a China).
Ainda assim, dentro desses muros eles são livres para expressarem a sua pureza, a sua sinceridade e a sua hospitalidade. Vê-se um sorriso no rosto deles, uma serenidade ao repetir as palavras de Dalai Lama. Aceitam a sua condição e esperam por um Tibete livre, mas sem violência. É bonito ver como vivem, mas me angustia a alma imaginar o que  milhares passaram e ainda estão passando sob o domínio chinês e, pior ainda, sob o olhar do mundo inteiro globalizado...




Comidas típicas:


Balep - pão típico, café da manhã e almoço (tipo chapati) ; massa: farinha, água, óleo e sal
A farinha geralmente é de cevada moída
(crédito da foto: www.yowangdu.com)





འཐེན་ཐུག་
Thukpa - macarrão com carne, bem molhadinho, tipo sopa de macarrão e vegetais. A carne seca geralmente é de iaque, ovelha ou cabra.
(crédito da foto: www.eastwestrealm.com)

མོག་མོག་
Momo - de vegetais e de carne (geralmente carne picada e cebola picada); massa: farinha água e fermento
(crédito da foto: www.yowangdu.com)

བོད་ཇ
Pêncha - o chá tibetano - infusão de chá preto, misturado com sal e manteiga de iaque num recipiente próprio
(crédito da foto: auctionata.com)






20.05.09 - Tibetan Settlement (Marpha, Nepal)




Thursday, September 4, 2014

Campo de refugiados tibetanos - dia 4

Hoje foi um dia bom. A pouco e pouco me sinto mais em casa, pertencendo a esta gigante família. Eles vão se acostumando à minha presença. As crianças fazem a minha alegria durante o dia e os velhinhos me apaixonam mais a cada dia.
Hoje foi o último dia do festival, que dura 8 dias. Muitos vêm de outros campos para participar nos jogos. Há comida e bebida para todas. Há sorrisos e alegrias.
Não consegui entrar na minha rotina de Yoga e meditação, mas também aqui o tempo é diferente e as horas de sol, ou melhor, de não frio, são as horas que passo na escola. Mas mesmo assim estou plena (e cheia de comida também!), é um lugar mágico!
Aprecio esta cultura, a harmonia com que eles vivem entre eles, a alegria que compartilham. É curioso ver também como os jovens se comportam. De um lado, os rapazes todos estilosos sentam em grupo, bebem e fumam. Do outro, as meninas, também super estilosas, ajudam as mães e tias na cozinha e trocam olhares e risinhos. Falam deles muito provavelmente e há todo um jogo, sútil suficiente para os mais velhos não notarem.
A minha presença não faz com que nenhum comportamento se modifique. É como se fosse uma pequena mosca apreciando tudo de perto, mas sem que a minha presença altere seja o que for.
Às vezes uma das senhoras mais velhas senta do meu lado e fala durante uns minutos. Com um sorriso tento dar a entender que não estou entendendo nada. Elas sorriem de volta, a maior parte das vezes com um sorrisão desdentado e sentam em silêncio ao meu lado. Quem me dera poder falar tibetano fluentemente ou pelo menos entender... Mas assim também é bom, pratico o meu silêncio e aprendo a ouvir mais com a voz do coração.
O fim dos jogos normalmente é celebrado com conto e danças tradicionais. Esperei ansiosamente por isso a tarde inteira de máquina em punho. Mas o fim veio e eles me explicaram que não houve música em respeito ao que está acontecendo no Tibete. Este ano eles nem celebraram o ano novo (24 de Fevereiro) por causa disso.
Hoje de manhã li o jornal "Human Rights" e me arrepiei com as histórias que ali vinham. Um povo tão doce, com uma cultura tão bonita e pacífica a ser tratado desta forma é absolutamente revoltante. E pensar que eles partiram em exílio e se tornaram refugiados em 1959, há 50 anos!! E mesmo assim há relatos de tortura e humilhação para com os que ainda ali vivem. Sem falar da descriminação que eles também passam aqui no Nepal (e provavelmente também na Índia e nos outros países onde se refugiaram....). Fiquei com uma vontade enorme de estudar profundamente chinês e tibetano e abraçar a causa com a minha alma. Sei que é muito pouco provável eu ir ao Tibete e fazer tudo o que me veio à cabeça enquanto lia o pequeno jornal. Mas sei também que não vou ser mais indiferente e vou fazer o que puder para divulgar, não só o sofrimento, mas sobretudo a beleza desse povo.
São talvez 8h da noite. O silêncio impera lá fora, só interrompido pelas fortes rajadas de vento, que são constantes a essa altitude. Estou cansada, mas plena de alegria, compaixão e amor. Vou dormir daqui a nada, mais uma vez muito grata por esta oportunidade de aqui estar e aprender com eles.
Boa noite.


"The impossible can be possible with will power."
H.H. Dalai Lama



18.05.09 - Tibetan Settlement (Marpha, Nepal)